19 de abril de 2024

Keyllen Nieto*

Publicado no site Pau para Qualquer Obra, em 23 de julho de 2014

Tenho algumas amigas lésbicas mais velhas. Gosto muito da experiência de passar tempo com elas e ver de perto como a vida lhes trouxe perspectiva sem perderem a capacidade de se maravilhar. Gosto também do fato de que muitas delas vivem relacionamentos amorosos de um jeito que me resulta diferente e intrigante porque cheio de verdade e ponderação sem perder a voluptuosidade. Parece que me é revelado um segredo que acalma ansiedades sobre encontrar parceria, respeito, cumplicidade e também romance e paixão quando estiver mais velha.

Agora que o casal formado por Nathalia Timberg (85) e Fernanda Montenegro (84) foi anunciado para “Babilônia”, a próxima novela das 21h na Globo, sinto que a oportunidade de mostrar essa realidade de forma magistral chegou na televisão. E com ela, provavelmente, se mostrarão também as dificuldades e preconceitos que essas mulheres devem suportar em uma sociedade como a nossa, que apaga o caminho entre a maturidade e a velhice em uma névoa de pessimismo e preconceitos.

Muitas dessas amigas também percorreram o caminho das personagens, que estiveram casadas com homens, tiveram filhos – ou não – e tiveram de enfrentar um pesado fardo para assumir o relacionamento com mulheres. Aos poucos, e com a mudança na mentalidade de pessoas próximas e da sociedade em geral, sinto que elas vão se sentindo cada vez mais à vontade para nos mostrar as possibilidades de se chegar “lá” de uma forma muito mais esperançadora e verdadeira do que aquela criada para nos encher de medo por uma juventude que só se faz esvair entre os dedos.

Irmandade

Graças a mulheres como essas, que são amigas, independentemente da sua orientação sexual, vejo que a irmandade e a lealdade entre mulheres existe e vai além do par romântico. Talvez por causa das lutas, dificuldades e conquistas em comum, vejo as maravilhosas parcerias que me aguardam lá na frente e que neste momento só posso trabalhar para conquistar. A diferença é que agora eu tenho exemplos reais e próximos para me inspirar.

A concorrência, as inseguranças e as comparações que vejo se manifestar recorrentemente nas mais jovens ficam diminuídas perante a grandiosidade da estrada em comum. Tomara que essa dimensão seja capturada no roteiro da próxima novela, para que ela reflita não só as profundas dificuldades do casal lésbico mais velho, mas também do que significa essa união entre mulheres que se amam e transmitem uma plenitude que entusiasma qualquer pessoa que se encontre no meio desta estrada.

A vocês, minhas queridas amigas mais velhas, meu sincero agradecimento pela intensidade, sinceridade e lealdade que trazem às vidas mais novas que as rodeiam.

*Keyllen Nieto é antropóloga colombiana, formada na Universidad de Los Andes. Possui mestrado em Desenvolvimento Sustentável Internacional pela universidade de Brandeis, nos Estados Unidos. Trabalha com políticas públicas de juventude e LGBT, se define como ativista e leonina otimista e encantada pela humanidade.

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