Campanhas de conscientização sobre a doença não costumam abordar pessoas transexuais
Por Marcella Centofanti
Publicado pela revista Marie Claire, em 01/11/2023
O câncer de mama é uma das formas mais prevalentes da doença no mundo. Ele afeta principalmente as mulheres, e, em casos raros, pode atingir os homens também. No entanto, campanhas de conscientização sobre a enfermidade não costumam abordar pessoas transexuais. “Essa população também corre o risco de desenvolver o tumor e precisa fazer exames de rastreamento”, aponta a radiologista Vivian Milani, especialista em diagnóstico de mama da clínica Cura.
Risco de câncer de mama em mulheres e homens trans
A conduta depende de cada situação. Mulheres trans são medicadas com o hormônio estrogênio para criar tecido mamário e ficar mais feminina. O estrogênio sintético — que também é usado por algumas pessoas durante a menopausa —, pode estimular o aparecimento do câncer. “A reposição hormonal não causa câncer, mas pode predispor ao aparecimento dele”, diz a médica.
Já os homens trans que mantêm os seios também podem ter a doença. “São suas populações que despertam alerta: o homem trans que não tirou as mamas e a mulher trans que está fazendo uso de hormônios”, afirma a radiologista.
Já para os homens trans que passaram pela cirurgia de retirada dos seios a conduta é diferente. A operação, chamada adenomastectomia, remove o tecido mamário e, às vezes, o excesso de pele, a depender do volume do órgão.
“Na medicina, a gente nunca pode falar nunca. Existe um câncer raro chamado doença de Paget, que pode atingir o mamilo e a aréola mesmo depois da cirurgia. A probabilidade de uma pessoa sem glândulas mamárias ter câncer de mama é muito pequena, mas existe”, explica a médica.
Recomendações de rastreamento
Vivian Milani destaca que homens trans que não retiraram as mamas devem seguir as mesmas recomendações das mulheres cisgênero.
O Instituto Nacional de Câncer (Inca) recomenda que a mamografia de rastreamento (exame realizado quando não há sinais nem sintomas suspeitos) seja realizado por mulheres de 50 a 69 anos, a cada dois anos. Essa é a mesma orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS)
No entanto, a Sociedade Brasileira de Mastologia e o Colégio Brasileiro de Radiologia e Diagnóstico por Imagem estabelecem o rastreamento a partir dos 40 anos, anualmente. Antes dessa idade, as mamas devem ser examinadas com um ultrassom.
No caso de mulheres trans, não há uma recomendação específica estabelecida pela ciência. No entanto, Vivian Milani aconselha que o rastreamento comece assim que houver o desenvolvimento do tecido mamário. “Na minha experiência no SUS, os homens trans fazem a mamografia, mas as mulheres trans, não”, alerta a médica.
Já homens trans que passaram pela adenomastectomia não precisam de mamografia, mas são aconselhados a realizar o autoexame e observar qualquer mudança na mama, como descamação do mamilo ou saída de secreção.
“Todas as pessoas, mulheres e homens, cis ou trans, devem fazer o autoexame. Se aparecer algum sinal de alerta, é preciso procurar um médico”, avisa Vivian Milani.