19 de abril de 2024

(Arquivo pessoal)

Os adolescentes envolvidos na confusão prestaram depoimento na semana passada

Sylvia Albuquerque
Publicado pelo portal R7, em 9 de março de 2015

(Arquivo pessoal)
(Arquivo pessoal)

Morreu, na tarde desta segunda-feira (9), o adolescente Peterson Ricardo de Oliveira, de 14 anos, que estava em coma desde a semana passada após se envolver em uma confusão na porta de uma escola pública na Vila Jamil, em Ferraz de Vasconcelos, Grande São Paulo.

Peterson foi agredido no dia 5 deste mês por ser filho de um casal de homossexuais, segundo um dos pais que conversou com o R7, Márcio Nogueira.

— Eu não sabia que meu filho sofria preconceito por ser filho de um casal homossexual. O delegado que nos informou. Estamos tristes e decidimos divulgar o que aconteceu para que isso não se repita com outras crianças.

O adolescente estudava na unidade de ensino desde os seis anos. Um irmão de 15 anos, que frequenta o mesmo colégio, presenciou a agressão.

O delegado Eduardo Boiguez Queiroz, da delegacia de Itaquaquecetuba, confirmou que o menino se envolveu em uma briga horas antes de passar mal e precisar ser levado da escola para o hospital.

— Ele brigou com alguns garotos na entrada da escola e passou mal quatro horas depois. Ele brincou, assistiu aula e depois passou mal. Ele já tinha um aneurisma. Não podemos afirmar que ele passou mal por conta da briga.

A Secretaria Estadual de Educação e a Secretaria Estadual de Saúde negam a versão da família. Em nota, a Secretaria Estadual de Educação informou que não há nenhum registro de agressão no interior da unidade onde o adolescente estudava e que as imagens das câmeras de segurança estão à disposição das autoridades policiais.

Além disso, a pasta informou que “a direção da escola lamenta profundamente” a morte do aluno, “que estudava na unidade desde os seis anos e participava ativamente das atividades curriculares extra classe, inclusive sendo parte do grupo de teatro e das oficinas realizadas aos finais de semana. Todo apoio aos familiares está sendo prestado.”

Já a Secretaria Estadual de Saúde confirma que o adolescente deu entrada nesta quinta-feira (5) no Hospital Regional de Ferraz de Vasconcelos com parada cardiorrespiratória e passou por um processo de reanimação. Exames feitos no garoto também constataram que ele teve hemorragia, mas não apresentava sinais externos de violência física.

O pai informou que pretende processar o governo de São Paulo.

— Queremos que a justiça seja feita.

NOTA DO CLIPPING LGBT

A primeira vez que tomei conhecimento da notícia desta agressão foi por meio de uma nota breve num site desconhecido para mim e noutro que não é da minha confiança. Por esta razão, busquei outros veículos e encontrei notas igualmente breves, até chegar ao portal R7 que trazia aquela que era notoriamente a fonte das demais notícias.

Observei que as outras notas além daquela veiculada no R7 omitia dois fatos: a informação da Secretaria Estadual de Educação de que não havia registro de violência física na escola e da Secretaria Estadual de Saúde de que o corpo do garoto não apresentava sinais de espancamento.

Aí eu comecei a me zangar, porque presumi que a omissão desses dois fatos tinha como propósito tornar a notícia mais sensacionalista. Além disso, algumas peças não se encaixavam levando-me a crer na veracidade das informações contidas no portal R7.

Por exemplo, em todas as notas que li, o pai do garoto mostra-se indignado, mas se referia apenas ao bullying e não ao espancamento. Também soou estranho para mim saber que, dos cinco agressores que teriam supostamente espancado o garoto até deixá-lo desacordado e posteriormente em coma no hospital, dois deles teriam ido pedir desculpas à família da vítima. Francamente, isso não me parece plausível, não é uma atitude esperada de um agressor em um caso como este, sobretudo em se tratando de adolescentes cujas famílias costumam isolá-los do assédio da mídia. O arrependimento pelo bullying me parece mais provável.

Enfim, o portal R7 trazia a versão do aneurisma que teria causado o mal-estar ocorrido quatro horas depois da briga entre os garotos (e não de um espancamento) motivada por bullying homofóbico e sua consequente internação no hospital, onde ficou em coma até sua morte.

E por que meu tom de indignação com essa possível falsa notícia de espancamento? Porque eu não preciso de sangue para me indignar com a homofobia, muito menos de um sangue inventado.

Este garoto foi, sim, vítima de um espancamento, mas de um espancamento moral que não deixa marcas no corpo. O aneurisma pode ter sido, sim, agravado pela pressão sofrida pelo garoto em razão do bullying que devia ser recorrente. Isso basta para que eu me revolte. As cores deste caso já são suficientemente fortes. Não preciso de artifícios.

Gésner Braga
Ativista LGBT, jornalista e administrador do site Clipping LGBT.

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