A união homoafetiva e a adoção dos filhos eram os sonhos de Júnior e Eduardo, de Americana. Deu certo
Por Jucimara Lima
Publicado pelo portal Liberal, em 18/09/2023
Encontrar o amor, se casar, ter filhos, enfim, constituir oficialmente uma família. Sem dúvida, esses sempre foram sonhos comuns para a maioria das pessoas, porém, há apenas uma década, a lei brasileira não reconhecia oficialmente esse tipo de direito a casais homoafetivos.
Por essa razão, a história dos profissionais da beleza e empreendedores Isaías Júnior Andrade Boaventura, de 46 anos e Eduardo Alberto Andrade Boaventura, de 53, com suas filhas Alice Vitória, de 17 anos, e Yasmin Vitória, de 14, é tão representativa.
Tudo começou em 2004, quando Júnior e Eduardo iniciaram o namoro e um tempo depois foram morar juntos, parceria reconhecida por um contrato de união estável. Ainda assim, eles queriam mais e em 2013, quando decisão do Conselho Nacional da Justiça permitiu a celebração do casamento entre pessoas do mesmo sexo, eles foram um dos primeiros casais de Americana a oficializarem a união civil.
“Tínhamos o sonho de nos casar e eu queria muito que ele tivesse o meu sobrenome e eu o sobrenome dele”, comenta Júnior. Já para Eduardo, a oficialização do casamento foi uma forma de ter um respaldo perante a lei em relação a direitos, assim como o primeiro passo para a realização do sonho de serem pais. “Nós já tínhamos o desejo de adotar e achávamos que casados seria mais fácil”, explica.
Primeiros passos
Na época, apesar de existirem casos no Brasil, os processos costumavam ser longos e envolvidos em polêmicas. Apenas em 2015, quando o Supremo Tribunal Federal permitiu definitivamente que casais homossexuais pudessem ter o mesmo processo dos heterossexuais, que o cenário começou a mudar. “Nós acompanhamos as notícias que saíam sobre o assunto e assim que foi divulgado, nos candidatamos”, recorda Júnior.
Logo, após procurar a Vara da Infância e Juventude, eles iniciaram o processo para adoção, que teve várias etapas, como a entrega de documentos, curso, análises feitas por psicólogos e assistentes sociais até serem inseridos no Sistema Nacional de Adoção e Acolhimento. Nessa época, Eduardo recorda que ficou com receio do preconceito, contudo não aconteceu. “Fomos muito bem acolhidos.”
A chegada de Alice
Mesmo sem mais exigências, o casal conta que queria ter uma menina e que preferia a adoção tardia. “Ser menina, entre outras razões, foi pela sensibilidade das mulheres. Já a adoção tardia foi porque sabemos que a maioria quer bebê, então, também era uma forma de dar uma chance para uma criança maior”, explicam.
Três meses após iniciar o processo, eles foram chamados para conhecer Alice, a filha primogênita que na época tinha oito anos. “Quando chegamos no abrigo, tinha um monte de crianças aguardando e ela tinha sido avisada que eram dois pais e aceitou a ideia. Era um espaço de dois andares e quando olhei para cima, vi uma menininha linda, de cabelinho cheio de lacinhos e pensei: é minha filha, ela está rindo muito para mim”, lembra Júnior. Para Eduardo, aquele encontro foi inesquecível. “Desde esse primeiro momento já sabíamos que era ela, foi maravilho.”
Após 6 meses e muitos dúvidas, Alice foi liberada para ir para casa. “Chegamos a questionar se a lentidão era pelo fato de sermos um casal homoafetivo, mas depois o juiz explicou que muitas crianças eram devolvidas. Graças a Deus ele viu verdade na gente, disse que percebia o quanto nós três nos amávamos. Eu me emociono só de lembrar quando ele bateu o martelo”, declara Eduardo.
Um ano depois, quando a certidão de nascimento de Alice chegou, eles entraram novamente na fila de adoção, pois achavam que a menina precisava de uma irmã.
Yasmin
Para a segunda adoção, o processo foi mais rápido e em três meses, Yasmin, na época também com oito anos, já estava integrada à família. “Quando ligaram falando dela, a assistente me disse que tinha foto. Quando bati meu olho na imagem, me senti todo arrepiado. Mais uma vez veio aquela certeza de que ela era nossa filha”, recorda Eduardo. Apesar das personalidades distintas, as garotas sempre se deram muito bem. “Foi uma troca muito bonita. Sentimos que elas se equilibram”, declaram os pais.
Para eles, que sempre lidaram com preconceitos, hoje o maior desafio é ajudar as filhas a aprenderem a se posicionar perante o mundo. “Fomos jovens homossexuais nas décadas de 80, 90. Passamos por muitas coisas, mas hoje, entendo que apesar de tudo o preconceito racial velado é mais dolorido e só aprendemos isso depois de ter duas filhas pretas”, aponta Júnior.
Por essa razão, Eduardo ressalta que a pauta racial é muito recorrente entre eles. “Hoje elas já são quase mulheres, são lindas, chamam atenção e precisam saber se defender, se empoderar. Muita coisa melhorou, a sociedade está evoluindo e se olharmos para trás vamos enxergar essas mudanças, contudo, ainda tem muito o que ser corrigido”, argumentam.
Família colorida
Para ajudar nessa conscientização, há três meses eles criaram o perfil @familiacoloridabrasiloficial, no Instagram. “Para nós, influenciar é isso, é inspirar positivamente vidas, então, queremos ajudar as pessoas compartilhando nossa história, falando sobre como é a adoção tardia, celebrando o amor e a diversidade. Se a gente conseguir impactar uma pessoa que seja, já ficaremos satisfeitos. Nossa ideia é mostrar que todo mundo pode ter uma família”, dizem eles, que não descartam mais uma adoção. “Quem sabe um menino”, finalizam, sorridentes.
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