10 de dezembro de 2024
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Obra vai contar a história do casal de Angatuba e dos filhos.
Lançamento do livro está previsto para dezembro deste ano.

Publicado no portal G1, em 11 de abril de 2014

Família Fantone Santana foi formada quando cinco crianças encontraram dois pais
(Foto: Caio Silveira/ G1)

A história de um casal homossexual que adotou cinco filhos de uma única vez vai ser tema de um livro. Com o título provisório de “Dois pais e cinco filhos: uma linda história de amor”, a obra é escrita por Leandro Fantone Santana, de 31 anos, em Angatuba (SP), cidade localizada há mais de 210 quilômetros da capital paulista.

Casado com o operador de máquinas Miguel Fantone Santana, de 45 anos, o vendedor Leandro se tornou pai de cinco crianças – todos irmãos – e decidiu contar a história da vida da família em um livro – tanto da vida do casal quanto das crianças, que viviam em um abrigo para órfãos antes de serem adotadas.

Até o momento, 239 páginas da obra já estão prontas. Porém, segundo Leandro, muito material deve ser cortado pela editora e principal incentivadora do livro, a jurista Maria Berenice Dias. Ela é criadora do termo união homoafetiva e defensora dos direitos dos homossexuais e das mulheres.

Dias conheceu o casal de Angatuba por meio da mídia – a história da família já foi tema de reportagens da TV TEM e do G1. “A Berenice sugeriu a criação do livro e eu segui com a ideia. Eu escrevo já algum tempo, e tudo o que crio envio para ela. No fim, quando a obra estiver acabada, ela cuidará da edição e da publicação da peça. A Berenice vem sendo uma grande companheira”, conta Leandro.

O lançamento do livro está previsto para dezembro deste ano. Até lá, ele tenta manter segredo sobre os fatos e histórias que serão descritos. Alguns familiares e amigos não fazem ideia do projeto. Nem mesmo os filhos chegam a ler o que é escrito. “O Miguel [marido dele] às vezes lê o que estou colocando no livro e dá algumas ideias, mas somente eu escrevo. Entre os temas que serão debatidos no livro estão a nossa união homoafetiva, o nosso relacionamento com as crianças, e o quão árduo e por fim feliz o processo de adoção. A adoção é uma via de mão dupla. É se sacrificar e receber ao mesmo tempo. A minha principal intenção ao escrever sobre a minha história é declarar que o amor existe”, afirma.

As crianças

Desde 2007, as crianças vivem com Leandro e Miguel, mas só depois de dois anos de acompanhamento, em dezembro de 2009, é que elas foram oficializadas como filhos. Miguel relembra da data: “Para ser concluído o processo de adoção, nossa vida familiar precisou ser acompanhada por uma equipe de psicólogos e assistentes sociais. No dia da mudança na certidão, a única coisa diferente do previsto que aconteceu é que um dos meninos, o Romário, queria ter meu nome. Aí o Romário passou se chamar Romário Miguel, e o Júnior, recebeu o primeiro nome de Leandro. Foi muito emocionante.”

Além dos filhos Romário Miguel Fantone Santana, de 12 anos, e Leandro Fantone Santana Júnior, de 10, os outros irmãos que completam a família são Maicon Fantone Santana, de 11 anos, e as garotas Camila Fantone Santana, de 13 anos e Mariane Fantone Santana, de 7.

Antes de morarem em Angatuba, os cinco irmãos viviam em um abrigo de um município da baixada fluminense, no Rio de Janeiro. Eles começaram a viver lá depois que os pais biológicos perderam a guarda das crianças. A filha mais velha, Camila, que tinha 7 anos quando foi adotada, recorda do tempo. “O abrigo era muito ruim. As pessoas que cuidavam da gente não estavam todo o tempo, porque aquela não era a casa delas. Então a partir do momento que fui viver com os meus pais, nossas vidas mudaram para sempre. Para melhor, é claro”, reflete.

Os pais

Os pais mudaram os planos de adoção aos conhecerem os irmãos (Foto: Caio Silveira / G1)

Leandro e Miguel vivem juntos há nove anos, e a união foi oficializada em maio de 2009. Antes do casamento, em 2007, o casal começou a procurar na Justiça o direito da adoção. Leandro comenta que, de inicio eles queriam dois filhos, mas ao conhecerem os cinco irmãos, os planos precisaram ser trocados.

“A gente não poderia separar as crianças. Separá-los seria abrir uma ferida que duraria anos. Aliás, se o destino não tivesse colocado nossas histórias juntas, a separação é o que iria acontecer. Os dois filhos mais velhos estavam com um processo de adoção de um casal do exterior. E se não fosse a gente para adotar todos de uma vez, talvez outro casal que estivesse também em processo não aceitasse. Afinal, a preferencia na maioria dos casos é por crianças brancas e muito novas. Já nossos filhos são negros e foram adotados com 7 anos abaixo.”.

Aliviados, os dois contam que nunca passaram por preconceito pela união homoafetiva. Mais alívio ainda eles têm ao dizer que os filhos também nunca sofreram preconceito. “Graças a Deus ninguém tem preconceito deles por serem filhos de um casal de homossexuais. Amigos deles vêm aqui em casa, a gente vai à reunião de pais, até mesmo o batizado na Igreja Católica a gente conseguiu para todos! Outros pais têm curiosidade, é claro, mas nunca sofremos nenhuma repressão. Até outros pais comentam com nós que as crianças são muito educadas, eles nos dão muito orgulho. Somos muito felizes juntos”, completa Leandro.

Leandro Santana escreve o livro ‘Dois pais e cinco filhos: uma linda história de amor’
(Foto: Caio Silveira/ G1)

 

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