19 de abril de 2024

Pesquisa inédita mostra que pessoas negras são alvo de metade dos registros de violência contra população LGBT+

Uma pesquisa inédita feita baseado nos dados do Sistema Único de Saúde (SUS) mostrou que a cada uma hora uma pessoa LGBT+ é agredida no Brasil. Entre 2015 e 2017, data em que os dados foram analisados, 24.564 notificações de violências contra essa população foram registradas, o que resulta em uma média de mais de 22 notificações por dia, ou seja, quase uma notificação a cada hora.

O levantamento foi realizado pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), Secretarias de Atenção Primária em Saúde e de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde,  Instituto Federal do Rio Grande do Sul (IFRS) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os pesquisadores coletaram as notificações feitas pelo Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), que faz parte do SUS, e que, portanto, inclui diversos casos de violência que não foram denunciados.

A pesquisa mostra um cenário muito pior do que se imaginava, mas os números podem ser ainda maiores. Os pesquisadores dizem que há muitas pessoas que não registram a ocorrência, não procuram o sistema de Saúde e, quando procuram, muitas não colocam sua orientação sexual por medo ou vergonha, o que faz aumentar os casos de subnotificação da violência.

População negra é a mais atingida

De todas as agressões, mais da metade delas são cometidas em pessoas negras.  A identidade de raça ou cor das vítimas foi descrita como branca em 41,4% dos casos, 1,8% amarelos ou índios e em 6,8% foi ignorada a raça.

Os pesquisadores explicam que não há como saber se as pessoas mais atingidas pela violência são negras, porque não há uma medição de quantas pessoas LGBT+ negras existem no Brasil. O estudo apenas descreve o que foi identificado no sistema de informações usado pelo SUS.

Entre adolescentes, a porcentagem de negros é ainda maior: 57%  de LGBT+ de 10 a 14 anos que foram agredidos são pardas ou pretas. Em todas as faixas etárias, a natureza de violência mais frequente foi a física (75%) e, em 66% dos casos, o provável autor é do sexo masculino.

Transsexuais e lésbicas são mais vítimas da violência

Os dados até então apresentados pela Associação Nacional de Travestis e Transsexuais (ANTRA) mostram que o Brasil é dos países que mais mata travestis e transsexuais do mundo, e que elas são as mais atingidas dentro da sigla. E isso foi sustentado pela pesquisa divulgada agora. Das vítimas, 46% eram transexuais ou travestis.

As pessoas homossexuais são 57%, das quais 32% lésbicas e 25% gays, mostrando que a violência contra gênero é algo relevante no quesito da agressão. E não só isso: pesquisadores ressaltam que, além do gênero, a raça e a classe são relevantes para se analisar a violência contra LGBT+.

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