3 de novembro de 2024

Luiz Fernando Menezes
Publicado pelo portal Terra, em 19 de dezembro de 2023

Alvo de uma decisão judicial para remoção de conteúdos enganosos que associam vacinas contra Covid-19 à Aids, o site Tribuna Nacional anunciou nesta terça-feira (19) no Telegram que vai interromper suas atividades. A liminar expedida pela Justiça Federal do Rio de Janeiro a pedido da AGU (Advocacia-Geral da União) ordenou a exclusão dos links com a desinformação – como a alegação de que o Canadá admitiu que vacinados contraíram a doença, desmentida pelo Aos Fatos em outubro.

A decisão do juiz federal Paulo André Bonfadini foi publicada na sexta-feira (15) e proíbe ainda a publicação de novo conteúdo com a desinformação no site ou no canal do Telegram, sob pena de multa diária de R$ 10 mil. A ação da AGU é fundamentada em levantamento da Secom (Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República) que identificou que o Tribuna Nacional foi responsável por viralizar a expressão “VAIDS” — usada por negacionistas ao dizer que as vacinas causam Aids.

“Diferentemente das informações respaldadas por evidências científicas sólidas e estudos rigorosos, a associação entre a vacina contra a Covid-19 e a Aids ocorre sem qualquer suporte científico confiável, aumentando significativamente os riscos para a saúde pública”, diz um trecho da decisão liminar.

Embora o escopo da decisão fique restrito à falsa associação entre vacinas e Aids, o Tribuna Nacional disse no seu grupo no Telegram que vai interromper suas atividades “por motivo de força maior e questões internas e também considerando o atual cenário do país”. O comunicado do site pede ainda orações para que “a tempestade passe e dias melhores cheguem a todos nós”. Aos Fatos verificou que o site está fora do ar desde a manhã desta terça-feira.

Após a publicação do comunicado, o canal do Telegram não recebeu novas mensagens. Um outro canal mantido pelo site, o Chat do Jornal Tribuna Nacional, permanece ativo, mas sem novas publicações dos administradores. Perfis no Facebook e no Instagram estão inativos há mais tempo: no primeiro, desde 2021; no segundo, a última postagem é de agosto deste ano e traz justamente a associação enganosa alvo da decisão judicial.

Até decidir sair do ar, o site Tribuna Nacional não espalhou somente desinformação que relacionava os imunizantes para Covid-19 com a Aids. Aos Fatos desmente alegações enganosas divulgadas pelo portal desde 2021.

A mais recente, de agosto, dizia que o Papa Francisco sugeriu o sacrifício de alcóolatras, autistas e pessoas com deficiência como forma de conter as mudanças climáticas, o que nunca ocorreu.

Também em agosto, um texto do Tribuna Nacional viralizou com a afirmação enganosa de que o “chefe da ONU” disse que expulsaria cristãos que não aceitassem a ideologia de esquerda. A publicação distorcia documento que defendia que a liberdade religiosa deve coexistir com o respeito a LGBTQIA+.

Em maio, o site também foi flagrado ao mentir que um estudo concluiu que os respiradores mataram a maioria dos pacientes de Covid-19. Especialistas apontaram que a interpretação era equivocada por desconsiderar que, em primeiro lugar, os doentes graves não sobreviveriam sem o equipamento.

E, em 2021, o Tribuna Nacional reproduziu um vídeo que dizia que a Suíça registrou aumento de mortes por Covid-19 após suspender a cloroquina, o que foi desmentido pelo próprio Escritório Federal de Saúde Pública da Suíça.

Outro lado – Aos Fatos procurou os responsáveis pelo Tribuna Nacional por email na manhã desta terça-feira (19), mas não houve resposta até a publicação desta reportagem.

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