Com apenas mulheres trans na passarela, apresentação emocionou o SPFW.
Natália Guadagnucci
Publicado pela revista L’Officiel Brasil, em 26 de outubro de 2016
“Foi emocionante, até chorei”, disse Costanza Pascolato no fim da apresentação de Ronaldo Fraga no Teatro São Pedro, no centro de São Paulo. Era só o que se ouvia por lá. Muito mais do que apenas um desfile, Ronaldo usou seu espaço no SPFW para dar voz a um manifesto político e social pelo fim da violência contra transexuais no Brasil, país que mais mata pessoas trans e travestis em todo o mundo, segundo relatório da ONG Transgender Europe.
O estilista fez história ao recrutar apenas mulheres transexuais para a passarela – desta vez, o conceito do desfile não estava na roupa, e sim em quem as vestiu. Elas usavam um único modelo de vestido, inspirado nas décadas de 20, 30 e 40, que ora ganhava mangas bufantes, ora estampas de bonecas de papel.
“Estamos em tempos de guerra. Minha forma de ir pra rua é essa”, disse ele. Para Ronaldo Fraga, o mundo não precisa de mais roupas; o que a moda precisa é começar a dialogar com outras frentes. Foi um lembrete para convidados e jornalistas ali presentes de que a moda é muito mais do que roupa, é também uma forma de libertação. Resistir é preciso.