27 de julho de 2024

O artista paulistano de 25 anos acaba de lançar seu primeiro EP, com letras que defendem as minorias e pregam a aceitação

Por Carol Pascoal, publicado pela revista Veja São Paulo, em 17 de abril de 2015

Shows cada vez mais frequentes: cachê de 3 000 reais (Foto: Mario Rodrigues)

Emicida, Projota, Rashid. Muitos rappers paulistanos ganharam força e sucesso nos últimos seis anos. Os três citados foram revelados nas batalhas de rimas e improviso da Santa Cruz. Nascido em Taboão da Serra, Jefferson Ricardo Silva também frequentava o local. Era conhecido como o garoto das roupas coloridas. Aos 25 anos, sob a alcunha de Rico Dalasam, ele é o mais novo nome a sair daquele celeiro, mas com um discurso diferente, ousado e até revolucionário dentro do meio.

Conhecido como o primeiro rapper gay negro do Brasil, o MC lançou o EP de estreia,Modo Diverso, neste mês. O disco de seis faixas defende as minorias, prega a aceitação e também fala dos “fervos” da noite. “Tenho uma história profunda, então existe uma tensão no discurso, não quero que o meu trabalho decline para o conceito de que tudo é festa, bexigas, confetes e serpentinas”, conta. “Tem o momento de falar sério. Existe um risco na minha existência devido a cor, classe social e sexualidade”.

Filho de uma cozinheira baiana e de pai do qual desconhece o paradeiro, Dalasam é o caçula de cinco irmãos que ajudaram em sua criação. Era como se cada um fosse responsável por um setor da vida: estudos, saúde e diversão. Com isso, ele pode estudar em escolas particulares – sempre com bolsa -, fez aulas de violão e inglês.

Aos 13 anos, contudo, já trabalhava como cabeleireiro. “Não tinha outros negros no colégio e eu me culpava por ser a ‘coisa’ errada ali no meio”, lembra. Foi justamente o preconceito que fez o adolescente tomar gosto pelo rap. “Enquanto os meus amigos piravam na Britney Spears, eu ouvia Racionais MC’s e Dina Di, porque eu só me enxergava naquelas letras”.

Dalasam: EP novo (Foto: Mario Rodrigues)

Quando completou 18 anos, virou assistente do badalado maquiador e cabeleireiro de moda Max Weber, o que lhe ajudou a pagar a faculdade de artes visuais no Senac. A dificuldade de começar a carreira artística se deu pelo cuidado de encontrar o momento certo para surgir como o primeiro homossexual no rap. “O que importa é o talento e não a opção sexual. Muitos artistas gays têm trabalhos sensacionais”, defende KL Jay, integrante do Racionais MC’s. “O rap está caminhando no sentido de defender a humanidade e jogar o preconceito no ralo.”

As referências musicais também vieram de dentro de casa. Dalasam lembra que ouvia muito Michael Jackson e Daniela Mercury na infância. A rainha do axé, inclusive, teve um trecho da canção O Mais Belo dos Belos sampleada na música de trabalho do rapaz. Intitulada Aceite-C, a faixa foi a primeira a ganhar um videoclipe, que teve mais de 80 000 visualizações no YouTube.

“Adorei que ele usou a minha música”, diz Daniela, que se casou com a jornalista Malu Verçosa em 2013. “Há quem tenha coragem para viver e construir uma obra artística relevante e há quem só se importe em ganhar dinheiro. Esse cara está chegando com uma atitude nova na vida e na arte. Isso já diz muito claramente que ele não é mais um refém do sistema. Para um rapper (e para mim) a coragem é revolucionária”, exalta a cantora.

A revelação da homossexualidade em casa não foi tão difícil, pois Dalasam tem uma irmã mais velha também gay. “Eles já sabiam, só estavam esperando eu contar. Disseram que me amavam e que nada iria mudar.” No meio do rap, acredita existir um preconceito que não chega até seus ouvidos. “Tem artista que não se aproxima porque pensa que pode não pegar bem pra ele, mas quem falar algo direto contra mim está se queimando.”

Rico adora andar pelo centro de São Paulo. Atravessa a cidade – ele ainda mora em Taboão da Serra – para ir a shows e a uma ou duas festas por mês, entre elas a Discopédia. No ano passado, fez a sua primeira viagem internacional para Nova York, onde registrou o clipe de Não Posso Esperar (com lançamento previsto ainda para o primeiro semestre). A agenda de apresentações do MC, cujo cachê vale por volta de 3 000 reais, começa a ficar apertada.

Do começo do ano até agora, passou por sete estados com seu show. Já consegue viver apenas com o dinheiro do rap. “Quero agora agregar homossexuais e heterossexuais na minha pista. Acho incrível quando vejo pessoas que não têm identificação com a minha narrativa na plateia. Esse é o poder que a música possui de transformar ideias”, afirma.

O rapper: influência de artistas como Daniela Mercury
(Foto: Mario Rodrigues)

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