Por Neto Lucon*
As candidaturas de travestis e mulheres transexuais mostraram a sua força nas eleições municipais de 2016. Além do recorde de mais de 80 candidaturas (veja algumas delas aqui), incluindo para prefeita, pelo menos 10% delas foram eleitas.
Neste ano, pelo menos 10 (dez) travestis e mulheres transexuais irão assumir uma cadeira do legislativo municipal (o número pode ser atualizado) em todo o Brasil, além de várias votações significativas e fortes candidatas suplentes a ocupar o cargo futuramente.
Minas Gerais é o Estado com o maior número de eleitas: quatro. E o Partido Progressista é o que teve mais eleitas (três), seguido do PSDB (duas). A maioria é de cidade interiorana e acima dos 40 anos. O PSOL, que teve o maior número de candidatas trans, não conseguiu eleger nenhuma. Nenhum candidato homem trans foi eleito.
A presença trans na política é comemorada, uma vez que evidencia que o grupo passa a se organizar mais fortemente, a ocupar espaços além dos estigmas e a promover representatividade. Além disso, tais pessoas tendem a ter maior comprometimento com as demandas desta população e a luta contra a transfobia, pois sentem na pele os desafios de viver esta identidade.
“Essa eleição foi bem importante do ponto de vista da visibilidade e do número de candidatas e candidatos. Acho que o percentual de votos nessas candidaturas foi bem significante e também considero importante ressaltar que as eleitas foram oriundas de pequenas cidades. Certamente, o movimento estará acompanhando e ajudando se necessário, mas acho que o protagonismo individual delas prevaleceu – e muito”, diz Keyla Simpson, presidenta da ANTRA (Articulação Nacional de Travestis e Transexuais).
Confira as eleitas:
EM MINAS
Em Patos de Minas, a candidata do PMDB Isaías Martins, de 46 anos, foi eleita a vereadora com 1.998 votos. Detalhe: a cabeleireira foi a terceira vereadora mais votada da cidade, com 2,62% dos votos.
Em Uberlândia, a comerciante Pâmela Volp, de 49 anos, se candidatou pelo PP e venceu a eleição com 1.841 votos. Ela era presidente da Associação das Travestis e Transexuais do Triângulo Mineiro (Triângulo Trans).
Em Viçosa, a servidora pública Brenda da Silva Santonioni, 40 anos, candidatou-se pelo PP e conquistou 968 votos. Ela foi a segunda mais votada do município com 2,43% dos votos totais.
Em Caldas, a trabalhadora rural Najara Gomes (PSDB), de 38 anos, recebeu 416 votos em sua primeira candidatura. Natural da cidade, ela se disse surpresa por ter sido a 5ª candidata mais votada (4,66%).
EM SÃO PAULO
O Estado de São Paulo conseguiu duas trans eleitas: Tieta Tintim (PSDB) com 732 votos na cidade de São Joaquim da Barra. Ela foi a terceira candidata mais votada da cidade, com 2,77%.
RONDÔNIA, PARAÍBA, RS E MS
Em Pimenta Bueno, Rondônia, a cabeleireira Jordana Ferreira Fonseca, de 34 anos, concorreu pela primeira vez pelo PSD e conquistou 553 votos. Natural da cidade, ela foi a quinta mais votada (2,95%).
Na cidade de Pilar, na Paraíba, Shirley Costa (PP), de 55 anos, conseguiu se eleger com os 346 votos.
Na cidade de Paranaíba, no Mato Grosso do Sul, a travesti Sarita dos Santos, de 52 anos, candidatou-se pelo PRB (Partido Republicano Brasileiro), da coligação “Paranaíba Acima de Tudo”, e foi eleita com 477 votos.
Em Cruz Alta, no Rio Grande do Sul, a cabeleireira Kátia Ross, de 44 anos, foi eleita com 599 votos. Ela concorria pelo PR e recebeu 1,66% dos votos.
VOTAÇÃO EXPRESSIVAS
Embora não tenham sido eleitas e eleitos, várias e vários candidatos que contemplam a comunidade T tiveram votação expressiva, mostrando potencial para futuras eleições. A candidata Indianara Siqueira, do PSOL, por exemplo, conquistou 6.166 votos no Rio de Janeiro.
Em São Paulo capital, Thammy Miranda (PP) teve 12.408. A professora Luiza Coppieters (PSOL) conquistou 9.744 votos. Leonora Áquila (PTN) recebeu 5.146 votos. Em Campinas, interior de São Paulo, Amara Moira conquistou 1.020 votos.
Em Salvador, Bahia, a dançarina Léo Kret (DEM) conquistou 2.270 votos e está como suplente. Anteriormente, ela já havia conseguido ser eleita. Em Curitiba, a ativista Maite Schneider (PV) somou 557 votos. Em Aracajú, Sergipe, Linda Brasil (PSOL) teve 2.038 votos. Em Belo Horizonte, Cristal Lopez (PSOL) teve 2.705 votos.
E AS CANDIDATAS A PREFEITA?
As representantes Samara Braga e Thifanny Félix, candidatas a prefeita em Alagoinhas, na Bahia, e Caraguatatuba, litoral de São Paulo, respectivamente, tiveram uma votação baixa.
Em Alagoinhas, Samara (PSOL) ficou em sexto lugar com 269 votos, ou seja, 0,36% dos votos totais. Na cidade, quem venceu a eleição foi Joaquim Neto (DEM), com 34,25% dos votos.
Em Caraguatatuba, Thífany (PSOL) foi a única mulher a concorrer e recebeu 394 votos – 0,67% do total. O eleito foi Aguilar Junior (PMDB), com 42,50% dos votos. Mesmo assim, as duas fizeram história por suas candidaturas inéditas que exalam representatividade.
PRÓXIMOS PASSOS
Embora as eleições tenham finalizado – as eleitas tenham trabalho a fazer no próximo ano e as suplentes aguardem a possibilidade de assumir a cadeira – a luta política e em prol dos direitos humanos de travestis, mulheres transexuais, homens trans e outras transgeneridades não terminou. Ao contrário.
Agora é continuar de olho e brigar para que projetos que queiram derrubar direitos conquistados – como o que visa suspender o direito ao nome social – sejam aprovados. É denunciar cada fala e ação transfóbica. É apoiar esta população, fortalecê-la e fazer com que os direitos sejam garantidos – sem nenhum passo para trás.
* Neto Lucon – Jornalista. É formado pela Puc-Campinas e pós-graduado em Jornalismo Literário pela Academia Brasileira de Jornalismo Literário. Escreveu para os sites CARAS Online, Virgula e Estadão (E+), Yahoo!, Mix Brasil, no jornal O Regional e para a revista Junior. É autor do livro-reportagem “Por um lugar ao Sol”, sobre pessoas trans no mercado de trabalho. Tem quatro prêmios de jornalismo, sendo dois voltados para as questões trans, Claudia Wonder e Thelma Lipp.
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