28 de março de 2024
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Advogado Oséias: assumiu a doença e trabalha como ativista (Foto: Reprodução)

Desde 1987, o 1º de dezembro se tornou o Dia Mundial de Luta Contra a Aids

Clarissa Pacheco (clarissa.pacheco@redebahia.com.br)
Publicado pelo jornal Correio, em 1º de dezembro de 2015

Trinta anos se passaram desde o início do combate à Aids, em 1985. Mas, apesar disso, as pessoas que vivem com o vírus HIV ainda sofrem com o preconceito —  às vezes, vindo deles mesmos. Como a primeira rejeição sofrida por Paula Mendes*, 54 anos.

“Repudiava o meu próprio corpo, lavava, lavava, lavava. Tinha medo de transmitir para a minha filha. Tinha medo até da minha menstruação”, relata. O diagnóstico de HIV e HTLV — doença contraída da mesma forma que a Aids, que infecta as células de defesa do organismo — veio há 12 anos.

“Foi um parceiro sexual antigo e a gente se reencontrou. Quando veio o diagnóstico foi muito difícil aceitar”, conta.

Direito a assistência

O Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids (Unaids) considera o Brasil uma referência no tratamento da síndrome. O país é um dos poucos que oferecem tratamento gratuito para a Aids, mas poderia ser melhor.

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Advogado Oséias: assumiu a doença e trabalha como ativista
(Foto: Reprodução)

O advogado baiano Oséias Cerqueira, 27, o Ozzy, um dos poucos jovens a assumir a síndrome, trabalha para tentar quebrar patentes de medicamentos. “O meu trabalho hoje é tentar facilitar e diminuir o preço dos remédios. Apesar de o governo oferecer, eles  oneram muito”, diz.

A Declaração dos Direitos Fundamentais da Pessoa Portadora do Vírus da Aids, documento aprovado em 1989 em Porto Alegre (RS), diz que “todo portador do vírus da Aids tem direito a assistência e ao tratamento, sem qualquer restrição”. Ainda assim, alguns desses direitos ainda são negados.

O decorador pernambucano de 53 anos, que se identifica apenas como Margarida*, conta que, além do preconceito nos olhares das pessoas que moravam na mesma rua que ele, se sentiu negligenciado pela equipe médica.

Ele descobriu que vivia com o vírus em Recife (PE) há quatro meses, após crises de diarreia. “Perdi muito peso, fiquei muito magro e mesmo assim a infectologista lá disse que eu não precisava de remédio, me colocou no soro. Quando cheguei aqui (em Salvador), nem acreditei quando me deram os remédios no mesmo dia. A médica ficou surpresa por eu estar há um mês sem”, relata.

Rejeição

Paula, por outro lado, sentiu o preconceito ainda mais próximo. Quando foi fazer uma cirurgia para retirada de um mioma, ouviu a enfermeira que lhe atendia comentar com uma colega que sentia rejeição em atendê-la. Ela já teve dificuldades até com tratamento odontológico.

Em maio deste ano, o Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap) reabriu o consultório odontológico para atendimento a pacientes soropositivos.

Soropositivos enfrentam preconceito de parceiros
Se a aceitação na família é comum para boa parte das pessoas vivendo com HIV atendidas hoje no Centro Estadual Especializado em Diagnóstico, Assistência e Pesquisa (Cedap), o preconceito nos relacionamentos ainda deixa marcas.

“Comigo, aconteceu em relação a namoro, de eu não estar pronto para contar e a pessoa achar que você está sendo mal intencionado ou a pessoa descobrir no Google e ficar revoltado ou simplesmente falar que não quer mais ficar com você porque não dá conta”, diz o advogado e ativista Oséias Cerqueira, o Ozzy.

Já Penélope Correia*, 40, conta que até se relacionou depois da doença, mas hoje está solteira porque não admite mentir sobre a doença. “Se eu estiver com uma pessoa, tem que ser de verdade. Eu não aceito dizer para ninguém que eu tomo remédios para gripe ou para diabetes. Eu tomo o coquetel porque eu sou soropositiva e ele é quem me mantém viva”, conta.

Quem também não abre mão de falar a verdade é o figurinista André Ferreira*, 38. Ele vive com a Aids há dez anos, mas já não transmite a doença. “Eu tenho HIV, mas não me sinto com HIV, graças a Deus. Estou com um rapaz que não é soropositivo e ele foi ao infectologista porque a camisinha estourou. Mesmo sendo indetectável, eu sempre falo para a pessoa”.

Em situações como essa, o parceiro sexual pode fazer a Profilaxia Pré-Exposição (PrEP): é administrado um antirretroviral (ARV) para bloquear o ciclo de multiplicação do vírus, impedindo a reprodução no organismo.

ONGs oferecem apoio para pacientes e famílias

Na Bahia, além dos centros de referência estadual e dos centros municipais, pessoas que vivem com o vírus HIV também encontram atendimento em ONGs. Em Salvador, o serviço não-governamental conta com psicólogos, terapeutas, médicos, fisioterapeutas e voluntários que decidiram ajudar outras que vivem com a síndrome.

Em Monte Serrat, a Casa de Apoio e Assistência ao Portador do Vírus HIV/Aids (Caasah) atende hoje 25 adultos e 19 crianças com Aids – todos vivem lá. Também em Salvador, o Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (Gapa Bahia) oferece apoio e atendimento psicológico a pessoas que vivem com o HIV desde 1988.

Já no bairro de Nazaré, a Instituição Beneficente Conceição Macêdo (IBCM), fundada há 27 anos, em 1988, oferece moradia para famílias que vivem com o HIV e também uma creche para crianças que vivem ou convivem com o vírus.

As 40 crianças atendidas na creche fundada pela ex-técnica em enfermagem Conceição Macêdo são filhas, netas, irmãs ou sobrinhas de moradores de rua que vivem com o HIV. A instituição sobrevive com auxílio de doações. Para ajudar a IBCM, basta ligar para (71) 3450-9759.

Doações à Caasah podem ser feitas por depósito bancário nas seguintes contas: Caixa Econômica Federal (Conta 3283-5 / Agência 0062-03); Banco do Brasil (Conta 2001-X / Agência 2967-X); Banco Itaú (Conta 57494-5 / Agência 0697); e Banco Bradesco (Conta 370-0 / Agência 3601-1). Para ajudar o Gapa Bahia, é só ligar para (71) 3241-3831.

*Nomes fictícios

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