Eduardo Bittar, militante LGBT
Publicado pelo portal Huffpost Brasil, em 18 de novembro de 2015
Ultimamente tenho entrado nesta de me questionar sobre a maioria das coisas que me cercam. Confesso que tem sido uma experiência boa e igualmente desesperadora. A verdade é que exercitar a empatia é algo que passa a fazer parte da gente como um todo e, por mais nobre que isso possa parecer, acaba doendo.
Dia desses ouvi colegas compartilhando risadas em torno de uma piada sobre a quantidade de gays de uma determinada cidade, inferiorizando o local. Naquele momento senti um frio na espinha e comecei a pensar em como uma piada poderia me ofender tanto.
Eu entendo que a maioria das pessoas “não faz por mal”. Ao mesmo tempo, me lembro que ao longo da vida precisei repensar uma série de coisas que eu “não fazia por mal”, mas que ofendia certas pessoas.
O que quero dizer é: a piada, mesmo que feita por alguém bem intencionado, ainda assim pode ser – ?e muitas vezes é? – ?ofensiva.
O mundo não está perdendo a graça. Eu não estou me tornando uma pessoa amarga. O politicamente correto não está destruindo o humor. É tudo uma questão deespaço, empoderamento e especialmente empatia.
É preciso pensar além. Os diversos preconceitos enfrentados por tantas classes diariamente (transfobia, homofobia, racismo, lesbofobia, machismo, bifobia, entre outros) são parte de uma estrutura gigantesca de opressão, alimentada diariamente pelas mais diversas formas de discriminação, incluindo o que você rotineiramente chama de “piada”.
Por mais distantes da nossa realidade que possam parecer, tanto o caso da travesti Laura Vermont, assassinada há alguns meses em São Paulo quanto o do João Antônio Donati, assassinado em Goiânia no ano passado, e mais tantos outros que acontecem com muita frequência no Brasil, têm sim suas origens em pequenas atitudes cotidianas que praticamos “sem maldade”, incluindo as benditas piadas.
Escrevo tudo isto para dizer apenas que não adianta colocar sua foto do perfil com o arco-íris e dizer pra amiga: “Nossa, tá parecendo um traveco (sic)”.
Não adianta dizer pro melhor amigo gay que você o apoia e rir de uma piada que diz que no Sul só tem “viado” (sic), como se isso fosse uma coisa negativa.
Por mais sutil que possa parecer, na morte de cada LGBT, tem um pouquinho disso. Tem uma piadinha, tem uma risada, um “até tenho amigos que são”.
Tem sangue dessas pessoas na mão de vocês.
Ridicularizar um grupo marginalizado endossa o preconceito e dá cada vez mais força e voz para uma onda de ódio já existente? – ?e crescente? – no Brasil. Para ser homofóbico, transfóbico, lesbofóbico, bifóbico, não é necessário matar ou bater em alguém. Basta dar eco a essa onda de ódio. Basta engrossar o caldo da intolerância com o falso humor que oprime.
O que é engraçado pra você pode não ser pra alguém, e ponderar isso nada mais é que ser humano. Não se trata de perder a graça nas coisas, trata-se de respeitar o outro.
Será que aqueles minutos de risadas valem a vida de alguém? Será que não vale a pena pensar se aquilo pode ofender alguém?
A falta de empatia é a doença do mundo.
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Muitas vezes a gente “anula” um comentário com atitude! Caminhando numa Orla e de sunga, um motorista de taxi disse: “lindas pernas, mesmo peludas!” Cheguei perto e de costas, deixei ele me alisar”. Fui ao quiosque próximo, num ponto discreto e senti ele vindo e levantando minha regata e me fazendo sentir ereção dele! O cara do quiosque disse parece que houve “empolgação”!