Tatiana Lozano planejou crime e esfaqueou filho em casa, concluiu inquérito. Decisão também vale para padrasto e 2 jovens acusados de participação.
Gabriela Castilho
Publicado pelo portal G1, em 10 de fevereiro de 2017
A Justiça decretou na quinta-feira (9) a prisão preventiva da mãe e do padrasto do jovem Itaberli Lozano, de 17 anos, achado morto em janeiro deste ano em Cravinhos (SP) e de dois jovens acusados de participação no crime, confirmou ao G1 o delegado responsável pelas investigações, Helton Testi Renz.
A Polícia Civil concluiu nas investigações que a gerente de supermercado Tatiana Lozano Pereira, de 32 anos, matou o próprio filho a facadas e contou com a participação de Victor Roberto da Silva, de 19 anos, e Miller da Silva Barissa, de 18, que foram contratados pela mãe para dar um “corretivo” em Itaberli e espancaram o adolescente na casa da família. Um exame revelou que havia marcas de sangue humano na residência.
Marido de Tatiana, o tratorista Alex Pereira, de 30 anos, retirou o corpo do imóvel e o levou até um canavial, onde foi incendiado, de acordo com Renz.
O G1 tentou entrar em contato com o advogado de defesa da mãe e do padrasto, mas não o localizou até a publicação desta reportagem.
Advogado de defesa dos dois jovens, Flávio Tiepolo informou que entrará com pedido de habeas corpus na próxima semana e argumenta que não há elementos que indiquem que os rapazes tenham cometido o homicídio. “Eles estiveram no local do crime, mas não participaram da execução”, alega.
Inquérito policial
Os pedidos de prisão preventiva foram encaminhados à Justiça na semana passada, quando a Polícia Civil concluiu o inquérito e indiciou a mãe e o padrasto do adolescente, além de Victor Roberto da Silva e Miller da Silva Barissa, por homicídio qualificado e ocultação de cadáver.
Com a decisão da Justiça, Tatiana, presa temporariamente desde 11 de janeiro, permanecerá na Penitenciária de Tremembé (SP) durante o andamento do processo penal.
Pereira, detido também desde o dia 11, Silva e Barissa – presos desde 13 de janeiro – serão transferidos da cadeia de Santa Rosa de Viterbo (SP) para o Centro de Detenção Provisória (CDP) de Serra Azul (SP).
“Eu não tenho nenhuma dúvida de que a vítima tinha um relacionamento muito conturbado com os familiares, sobretudo com a mãe, e que isso motivou o homicídio. A participação dos quatro maiores e da adolescente está comprovada. Todos estavam no local, todos participaram e devem responder por homicídio qualificado”, afirma o delegado.
Suspeita de apresentar Tatiana aos dois rapazes, uma estudante de 16 anos continua internada na Fundação Casa. De acordo com Renz, foi aberta uma sindicância para comprovar a participação direta dela no crime.
Em caso positivo, ela poderá responder por ato infracional equiparado a homicídio qualificado, permanecendo na Fundação até completar 21 anos.
“Dá nossa parte, o inquérito está concluído. A gente só aguarda agora os laudos da necropsia e do DNA, que a gente vai remeter junto ao processo, e a constituição do crime, que deverá ser feita no início de março”, afirma.
O crime
O corpo de Itaberli Lozano, de 17 anos, foi encontrado carbonizado em um canavial em Cravinhos em 7 de janeiro. A família registrou um boletim de ocorrência relatando o desaparecimento do adolescente dois dias depois.
No dia 11 de janeiro, a mãe e o padrasto foram presos e confessaram o crime. Inicialmente, Tatiana disse que discutiu com o filho dentro de casa, o esfaqueou na madrugada de 29 de dezembro e, com a ajuda do marido, queimou o corpo no canavial.
Em um segundo depoimento, a mãe voltou atrás e contou que havia aliciado dois jovens para darem um “corretivo” no filho, mas sem a intenção de matá-lo. Tatiana disse que ligou para Itaberli, que estava na casa da avó paterna, alegando que queria se reconciliar.
Dois dias depois, a Polícia Civil prendeu dois jovens suspeitos de ajudar Tatiana a matar Itaberli. A gerente de compras entrou em contato com os rapazes através de uma estudante, de 16 anos, que afirmou em depoimento ao Ministério Público que a mãe do menino não suportava mais o convívio e queria dar um “corretivo” nele. A menor diz que viu a mãe esfaquear Itaberli.
Com a ajuda do padrasto, Tatiana, os jovens e a adolescente armaram uma emboscada para a vítima. Após uma briga com a mãe, o jovem se mudou para a casa da avó paterna. Com a desculpa de que queria fazer as pazes, Tatiana o chamou para voltar para casa, onde o trio estava escondido.
Os depoimentos divergem, sendo que ninguém afirma ter dado o golpe fatal no rapaz.
Poucos dias depois da identificação do corpo, um tio de Itaberli chegou a levantar a hipótese de que o homicídio teria sido motivado por homofobia.
O Ministério Público investiga a possibilidade após ter recebido cópias de uma postagem da vítima nas redes sociais dizendo que apanhou a mando da mãe por ser homossexual.