Pesquisadores da Aarhus University, na Dinamarca, fizeram uma descoberta que pode revolucionar o tratamento contra o vírus HIV
Por Nayra Teles, editado por Bruno Capozzi
Publicado pelo portal Olhar Digital, em 21/09/2023
Há 42 anos, nos Estados Unidos, a AIDS era descoberta. De lá para cá, a doença fez milhões de vítimas no mundo inteiro. Segundo dados da UNAIDS (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/AIDS), só em 2022 foram cerca 630 mil mortes relacionadas aos HIV (vírus causador da doença) a nível global. Com o avanço da ciência e da medicina, o tratamento progrediu muito ao longo das décadas. Agora, pesquisadores da Aarhus University, na Dinamarca, fizeram uma descoberta promissora.
No ano passado, cientistas demonstraram que os indivíduos recém-diagnosticados tinham uma resposta de imunidade mais forte contra o vírus e níveis mais baixos do HIV no sangue quando recebiam os chamados anticorpos monoclonais, juntamente com o início do tratamento médico regular. Os anticorpos monoclonais contra o HIV são produzidos sinteticamente
Num novo estudo, foi demonstrado que pacientes diagnosticados há anos também se beneficiam desta terapia. Especificamente, o tratamento com anticorpos permitiu que os participantes suprimissem o vírus por mais de três meses. Alguns pacientes, inclusive, continuaram a suprimir espontaneamente o HIV durante mais de 18 meses após a interrupção do tratamento regular. Os resultados foram publicados na revista Nature Medicine.
O que você precisa saber:
- Os participantes da pesquisa foram divididos aleatoriamente em quatro grupos.
- O primeiro recebeu o medicamento Lefitolimod. O segundo recebeu dois anticorpos monoclonais (3BNC117 + 10-1074) contra o HIV. O terceiro teve tratamento padrão sem medicação experimental. E o último recebeu ambos os tipos de medicamentos experimentais.
- Os voluntários recém-diagnosticados que receberam anticorpos monoclonais contra o HIV tiveram uma resposta imunológica mais forte e apresentaram menos níveis do vírus no sangue.
- O tratamento com anticorpos manteve a supressão do vírus por mais de três meses. Em alguns casos por mais 18 meses.
Em entrevista à revista Medical Xpress, o Ole Schmeltz Søgaard, do Departamento de Medicina Clínica da Universidade de Aarhus e autor da pesquisa, disse que esse é um passo importante para a descoberta de uma cura: “O estudo é um dos primeiros ensaios controlados por placebo realizados em seres humanos, onde demonstramos uma forma de aumentar a capacidade do próprio corpo para combater o HIV – mesmo quando o tratamento padrão é interrompido”.
Os anticorpos monoclonais contra o HIV são produzidos sinteticamente em abundância e usados em tratamentos experimentais. O estudo foi conduzido em conjunto por pesquisadores da Dinamarca, Noruega, Austrália e EUA.
A cura chegará em breve? A resposta é paciência
Apesar de ser um grande passo, ainda falta percorrer um longo caminho para uma cura. Mesmo confirmado o sucesso, é necessário aperfeiçoar e potencializar o novo tratamento.
A boa notícia é que os cientistas não perdem tempo. Já estão recrutando novos voluntários para um ensaio clínico conduzido pelo Reino Unido, que inclui a avaliação da eficácia de dois anticorpos monoclonais contra o HIV. Também está em planejamento uma pesquisa mais abrangente em toda a Europa para aprimorar o tratamento experimental.
“A esperança é que melhoremos gradualmente a nossa estratégia de tratamento experimental até um nível em que o efeito do nosso tratamento seja que até 50%, 70% ou mesmo 100% dos pacientes fiquem livres da medicação e não tenham recaída nem possam infectar outras pessoas. Se conseguirmos isso, teremos desenvolvido uma cura para o HIV que mudará a vida de aproximadamente 38 milhões de pessoas que vivem hoje com a doença.”
Ole Schmeltz Søgaard
Schmeltz explicou, ainda, que a hipótese é de que um tratamento otimizado terá um efeito mais poderoso sobre o vírus e a imunidade dos pacientes, melhorando, assim, a capacidade do sistema imunológico de suprimir permanentemente o vírus residual no corpo.