Publicado pela Agência de Notícias da Aids, em 10 de agosto de 2018
Na segunda semana de agosto, iniciou-se um novo estudo de Profilaxia Pré-Exposição ao HIV (PrEP), na Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) em São Paulo, que utiliza a nova medicação injetável de longa duração chamada Cabotegravir. Uma injeção intramuscular da droga, aplicada a cada 2 meses, é capaz de manter níveis adequados do medicamento no sangue dos seus usuários e pretende revolucionar o mundo da prevenção do HIV.
Mas porque seria necessária uma PrEP injetável num mundo em que já existe a PrEP com comprimidos tomados diariamente, com excelente proteção contra o HIV e já distribuída gratuitamente pelo SUS? Porque as pessoas desse mundo não são todas iguais e, portanto, adaptam-se de maneira diferente às estratégias disponíveis de prevenção.
Quanto mais opções de prevenção contra o HIV existirem, maiores as chances de se contemplar, com alguma delas, todos os diferentes contextos de vida. Nesse sentido, além do Cabotegravir, outras drogas estão sendo estudadas ao redor do mundo como candidatas a PrEP, com diferentes intervalos e vias de administração.
Uma vez que o sucesso da PrEP na prevenção do HIV depende de uma boa adesão ao medicamento utilizado, diversos trabalhos já demonstraram que alguns subgrupos, como os indivíduos mais jovens e as travestis/mulheres trans, por conta de uma pior adesão aos comprimidos da PrEP, atingem menores níveis de proteção ao HIV. Para eles e outros que tenham dificuldades em tomar comprimidos diariamente, a PrEP injetável de longa duração pode ser uma solução promissora de prevenção.
O novo estudo, chamado HPTN083, está sendo realizado simultaneamente em 7 países – Brasil, Estados Unidos, Argentina, Peru, África do Sul, Tailândia e Vietnã – e pretende demonstrar que as aplicações do Cabotegravir injetável funcionam tão bem para prevenção do HIV quanto o uso diário dos comprimidos já disponíveis da PrEP.
No Brasil, são participantes, além da FMUSP, Centro de Referência e Treinamento DST/Aids (‘Santa Cruz’), também em São Paulo, o Instituto de Pesquisa Clínica Evandro Chagas (IPEC) da Fiocruz, no Rio de Janeiro, e o Hospital Nossa Senhora da Conceição, em Porto Alegre.
Todos os participantes incluídos nesse projeto de pesquisa receberão injeções e comprimidos. Depois de um sorteio eletrônico no momento da entrada no estudo, metade deles passará a receber injeções de Cabotegravir e comprimidos de placebo, enquanto a outra metade vai receber injeções de placebo e comprimidos da PrEP já consagrada e disponível no SUS. Ninguém receberá apenas placebo e ninguém saberá em que grupo cada indivíduo está até o final do estudo.
É assim que são feitas as pesquisas clínicas de PrEP. Sempre se baseando em resultados animadores de estudos realizados anteriormente com a droga, seja em macacos ou em grupos menores de pessoas.
Além das injeções e dos comprimidos, todos os participantes receberão o pacote tradicional de prevenção, com aconselhamento sobre vulnerabilidade, preservativos, lubrificantes, vacinas e rastreamento para as outras infecções sexualmente transmissíveis (ISTs).
São público alvo desse estudo homens gays/bissexuais e travestis/mulheres trans maiores de 18 anos de idade, que não vivem com HIV, mas que se encontram em risco significativo de se infectarem. São escolhidos esses grupos por conta de suas maiores vulnerabilidades à infecção no Brasil.
As pessoas de São Paulo interessadas devem entrar em contato com o Centro de Pesquisa Clínica da FMUSP por meio do agendamento.estudo@gmail.com ou da página do seu Programa de Educação Comunitária para agendar uma consulta de triagem e tirar todas as suas dúvidas. Em breve o CRT Santa Cruz estará também agendando pelo pesquisa@crt.saude.sp.gov.br. No Rio de Janeiro, isso pode ser feito através do hptn083rio@gmail.com e, em Porto Alegre, do poapreprs@gmail.com.
Fonte: UOL Viva Bem