Di Nascimento é um homem trans de 15 anos, ativista do movimento trans em Salvador e dono de um discurso contundente que sempre surpreende aqueles que lhe ouvem por, via de regra, não conseguirem associar sua tenra idade à sua postura adulta. Na mensagem abaixo, ele explica as razões do seu espantoso amadurecimento.
“Eu vou fazer um meu amigo secreto diferente, dessa vez ele é direcionado aos meus amigos de verdade, em especial aos da militância.
Galera, por favor, parem de ficar justificando meus comportamentos enquanto militante com a minha idade, parem de pedir para que eu ‘não tente agir como adulto’ ou que eu ‘não me cobre como adulto’ e, principalmente, parem de dizer que eu não sei de nada porque eu ‘só’ tenho 15 anos.
E sabe por que? Porque só ter 15 anos nunca me isentou de ser violentado, porque mesmo ‘só’ tendo 15 anos eu já fui agredido fisicamente por 6 anos a fio dentro da escola, mesmo tendo só 15 anos eu já fui estuprado e não foi uma única vez, mesmo tendo só 15 anos eu já fui ameaçado de morte por ser quem eu sou, mesmo tendo só 15 anos eu sofro transfobia todo santo dia, e se eu resolvesse continuar seria uma lista interminável de coisas mesmo tendo ‘só’ 15 anos.
Agir como uma criança nunca foi uma opção pra mim, entendam isso, ter atitudes que vocês consideram ‘de adulto’ desde os 7 anos é o que me faz estar vivo, é o que me faz não ter morrido, nas mãos dos outros ou nas minhas próprias.
Eu não tive o direito de ser criança, de ser despreocupado como uma criança deveria ser; e eu não tenho o direito de ter a adolescência que vocês exigem que eu viva porque eu carrego comigo vivências e pesadelos que um adolescente de apenas 15 anos não deveria carregar, na verdade, ninguém deveria.
Meus estupradores não lembraram que eu tinha só 8 anos na hora de me estuprar; meus colegas de escola não lembraram que eu tinha só 10 anos na hora de me espancar diariamente na escola.
Por favor, não me peçam pra lembrar que eu tenho só 15 anos quando eu estiver militando, ter pouca idade nunca me isentou de absolutamente nada.
E às favas com as porras dos seus discursos científicos de que meu cerébro ainda está em formação, eu não vou negar isso, mas eu também posso afirmar que as violências que eu sofria na idade que parte de vocês tavam andando de bicicleta por ai fazem de mim um adolescente com um pouco mais de percepção de mundo.
Eu posso afirmar que tô cansado sim, viu? Porque se pra vocês a militância começou quando vocês decidiram entrar nela, a minha começou na primeira vez que eu apanhei na escola por ser ‘diferente’, e isso já faz tempo pra caralho.
Então engulam o etarismo de vocês e entendam que vocês não tem o DIREITO de me cobrar que eu não tente agir como um adulto (seja lá o que isso signifique pra vocês), porque agir assim é o que me faz sobrivever.”
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Muito bom dar uma chacoalhada nos pensamentos formatados.