9 de outubro de 2024
luta

Cristiano Lucas Ferreira

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Racismo, machismo ou homofobia? O que dói mais? Qual deles consegue massacrar mais um ser humano? Que manifestação de ódio é capaz de transformar uma pessoa num farrapo, num arremedo de gente, capaz de matá-lo em vida? É possível mensurar as lágrimas daqueles e daquelas que, na escola ou fora dela, foram apontados/as como diferentes, por isso, merecedores do escárnio, do desprezo, da apartação?

No dia em que deveríamos celebrar a Consciência Negra e pensar nas formas de reparar a desgraça que foi a escravidão nesse país e, mais do que isso, se envergonhar diante do que nossos antepassados fizeram com milhões de africanos e africanas, o discurso racista ainda é extremamente forte entre nós, cada vez mais presente e o mais assustador, cada vez mais livre, principalmente quando a internet favorece os/as covardes.

É comediante racista fazendo piadas com bananas, é médico que humilha a atendente no cinema chique de Brasília, é gente que fala que cotas são privilégios, que acredita que mulher preta é pra trabalhar, a mulata pra trepar e a branca pra casar e que crianças pretas são sujas e adolescentes pretos são futuros traficantes, ladrões, estupradores ou vagabundos que lotarão a Papuda ou o CAJE.

Pois que hoje, no dia da Consciência Negra, no Congresso, sofremos quatro chibatadas. O PLC 122, que propõe a criminalização da homofobia, não foi apreciado no Senado por falta de quórum e por causa dos/as parlamentares fundamentalistas. Além disso, de forma sorrateira, Feliciano e seus comparsas conseguiram aprovar na Comissão de Direitos Humanos da Câmara a proposta que exige a suspensão da decisão do CNJ que aprovou o casamento entre pessoas do mesmo sexo e outra que solicita a realização de um plebiscito que questionará se a população é ou não favorável às nossas uniões, além de barrar o projeto que garantiria direitos previdenciários igualitários.

A cada discurso de ódio, a cada piada racista, a cada interferência fundamentalista no debate sobre nossos direitos, a cada notícia de estupro ou pedofilia, fico aqui pensando… onde é que estamos errando? Será que é isso mesmo? Que não há jeito, que lutamos uma luta já vencida pelo outro lado e que só a gente sai machucado/a, fragilizado/a? Enquanto mulheres continuam sendo estupradas e morrendo em clínicas clandestinas de aborto, enquanto bichas, sapas e travas continuam sendo assassinados/as e levando lâmpadas fluorescentes pela vida e negros e negras na parte mais baixa da sociedade, nossos adversários continuam lá, firmes e fortes, no camarote, na Casa Grande, por cima do púlpito, mais pertos de deus.

É por isso que, quando bate o desânimo, a resignação e a ideia de que as coisas são assim e assim permanecerão começa a rondar meus pensamentos, eu me viro para a vida de tantos negros e negras, que um dia foram obrigados a atravessar o Atlântico. É por isso que me inspiro nos tantos gays, nas sapas e travas que foram e continuam sendo assassinados/as brutalmente. É por isso que me inspiro nas tantas Marias da Penha, brasileiras ou não. Se não fossem por eles e elas, pelo que passaram e ainda passam, confesso que já teria desistido!

Podem vir fundamentalistas, machistas, racistas e homofóbicos/as. Correm, em nossas veias, além de um pouco de purpurina, a história dos que tombaram em nome da liberdade!

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