29 de março de 2024
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Depois das pioneiras Lea T. e Carol Marra, a moda brasileira conta com mais uma modelo transexual. Aqui, a guapa conta sua história de superação

Publicado pela revista Glamour, em 30 de agosto de 2015

Valentina Sampaio (Foto: Reprodução/Instagram)

Ela não revela seu nome de batismo. Por um simples motivo: “Sempre fui Valentina”, diz. Aos 18 anos, a cearense nascida em Fortaleza Valentina Sampaio (@valentts) cursou um ano e meio de Moda, hoje faz faculdade de Arquitetura e, há um ano e meio, fez seu primeiro desfile, num evento de moda local. Diferentemente de muitas histórias de bullying e preconceito contra trangêneros, Valentina garante nunca ter sofrido por sua condição. “Meu pai é pescador, tem 42 anos, minha mãe é professora e tem menos de 40. Eles são jovens e têm cabeça aberta. Sempre respeitaram quem eu sou.”

Aqui, num depoimento à editora Alline Dauroiz, Valentina conta sua história e mostra seu lado mais menina. “Acredita que ainda brinco de boneca? Tenho uma coleção linda delas!”.

“Sempre me pareci com uma menina. Desde pequena, usava cabelos compridos, gostava de roupas mais apertadas, shorts curtos. As pessoas diziam: “Que menina linda!”, elogiavam meus olhos, meus cabelos…

Lá em casa, somos em seis irmãos – três meninos e três meninas. Sou a segunda filha, e o primogênito, Guilherme, de 20 anos, era muito diferente de mim: usava roupas de menino, gostava de fazer brincadeiras de menino… Já eu era mais próxima das minhas irmãs, principalmente da Joana, que nasceu logo depois de mim e hoje tem 16.

Valentina Sampaio (Foto: Reprodução/Instagram)

Engraçado que meus pais nunca me trataram como tratam meu irmão. Eu era diferente, e eles eram mais cuidadosos, carinhosos. Acho que respeitavam quem eu era, sabe?

Aos 8 anos, minha mãe me levou a uma psicóloga. Naquela época, eu já adorava ficar perto das meninas, me sentia uma delas, e tinha uma coleção de bonecas (confesso que brinco com elas até hoje). A única coisa é que não gostava de colocar sunga pra ir à praia. Eu ia de roupa mesmo.

A psicóloga entendeu na hora que eu era transgênero. Com uns 10, 12 anos, passei a me chamar Valentina – nome que escutei uma vez e achei lindo! Na escola, minha aparência não mudou muito. Usávamos uniforme, meu cabelo já era comprido, eu já brincava com as meninas… Só passei a frequentar o mesmo vestiário que elas. Ah, e foi preciso conversar com os professores pra que eles sempre me chamassem de Valentina na chamada.

Tive muita sorte, porque meus pais são jovens, têm uma cabeça aberta. Na escola, não sofri bullying nem preconceito. As pessoas aceitavam minha condição, talvez porque também me vissem como uma menina. Aos 15 anos, minha taxa de hormônios femininos já era alta. Tanto que não tinha pelos no corpo, e meus seios começaram a crescer naturalmente.

Valentina Sampaio (Foto: Reprodução/Instagram)

Logo depois, aos 16, entrei pra faculdade de moda. Era uma certeza na minha vida! Sempre assisti a vídeos de desfiles, customizei roupas… Eu cortava camisetas, pintava blusas e gostava mesmo é de desenhar! Desenhava croquis com roupinhas, imaginando que era uma daquelas bonequinhas. E foi durante a faculdade de moda, no início de 2014, que uma colega me chamou pra participar do Festival de Moda de Fortaleza (FMF) como modelo. E eu fui.

Nunca fiz cursos de passarela, mas durante os castings, aprendi a andar com os pés retos (tinha mania de entortar a pisada pra dentro), a não pisar tão forte, a não mexer tanto o quadril… É preciso andar com firmeza e leveza, numa passada que não é tão rápida. E o olhar tem de passar segurança. Temos que conquistar a plateia com olhar desafiador. Parece fácil quando a gente vê na TV, né? Mas tem tantos detalhes…

Depois desses primeiros desfiles, conheci o maquiador Assis Brito, aqui de Fortaleza. É ele quem está me apresentando ao mundo fashion. Fiz um book, fui a testes e passei a ser chamada pra semanas de moda da cidade. Já fiz umas três – no último Dragão Fashion, desfilei pra uns 10, 15 estilistas!

Quando comecei a faculdade, também arranjei um namorado, com quem fiquei por seis meses. No começo, falei pra ele: “Você sabe que sou assim meio diferente, né?”. Foi difícil falar, porque sou muito tímida… Mas ele disse na hora: “Eu amo você mesmo assim”. Foi muito bacana!

Depois que terminamos, fiquei com outros meninos. Mas nunca namorei sério, de levar em casa e tal… Sou bem tímida, caseira. Pra você ter ideia, só fui a umas três festas na vida! Meus pais sempre foram muito zelosos, eu também não sou muito chegada a lugares lotados… Hoje estou solteira, mas posso dizer que a paquera aumentou muito. É curioso, porque no mundo da moda, estou sendo bastante assediada! Mas tenho jogo de cintura pra driblar as cantadas. Não sou de ficar saindo com vários.

Bom, tranquei o curso de moda depois de um ano e meio, porque minha paixão é desenhar, mas não tenho aptidão pra costura e pras outras disciplinas, sabe? Um dia, ainda quero terminar essa faculdade, mas por ora me matriculei em arquitetura. Só que tenho tantos planos!

A agência Way Models me procurou recentemente, oferecendo agenciamento em SP. Só estou relutando um pouco pra ir, porque sou muito dependente da minha família, muito atrapalhada, acho que ainda não tenho desenvoltura pra me virar sozinha numa capital como São Paulo. Mas quero seguir firme na carreira de modelo, ter experiências internacionais e também levar a faculdade de arquitetura. Vamos ver se consigo…

Adoraria desfilar pra um estilista como o Walério Araújo, sabe? E meu sonho é ser uma Gisele Bündchen, desfilar pra Givenchy, conhecer o Karl Lagerfeld, virar uma Angel da Vitoria Secret’s… Tenho fé que vou conseguir!

Ainda não passei pela cirurgia de mudança de sexo, fico com um pouco de receio, mas quero fazer isso o quanto antes! E quero fazer na Tailândia, onde dizem que a tecnologia está bem avançada. Também comecei o tratamento hormonal com endocrinologista e já dei entrada no processo pra mudar meu nome. Sou Valentina Sampaio, sempre fui! Só falta oficializar.”

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