27 de abril de 2024

Publicado pelo Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQ+, em 05/02/2024, com informações do portal GE

(Foto: Rodrigo Otávio)

Nicole se tornou a primeira jogadora trans de futebol a disputar um campeonato profissional em Minas Gerais. Quase teve o sonho de jogar futebol interrompido por não entender a própria identidade e, depois, ciente dela, teve medo das consequências. Mesmo assim, arriscou e seguiu seu coração.

Em entrevista exclusiva ao GE, Nicole relatou o dilema que enfrentou desde o início da adolescência até a vida adulta, as consequências que sofreu ao se assumir mulher transexual quando estava em um time profissional, a desistência forçada do futebol e o retorno aos campos.

Nicole começou a jogar futebol com seis anos. O sonho de se tornar jogadora profissional começou aos sete, quando passou a disputar jogos no campo. Nessa época, Nicole viajava com o time do bairro onde morava para disputar competições.

– Íamos para fora de Belo Horizonte, no interior, e isso foi criando em mim um sonho muito grande de jogar profissionalmente. Logo eu saí para um time de outro bairro, que tinha uma estrutura melhor, e, cada vez mais, fui procurando times mais preparados e que me dessem a oportunidade de aparecer um pouco mais – lembra.

Quando estava prestes a completar 18 anos, Nicole entrou na categoria de base do Cavaleiro Negro, time de Belo Horizonte que época formava jogadores para vendê-los a outros times. Foi neste clube que ela disputou o Campeonato Mineiro nas categorias sub-17 e sub-20.

Nicole permaneceu no clube por dois anos. Depois, teve a chance de assinar o primeiro contrato profissional com o Luziense para disputar a Segunda Divisão do Mineiro. Pouco depois, Nicole rompeu os ligamentos de um dos joelhos, precisou passar por uma cirurgia e ficou dez meses afastada dos treinos.

– Quando eu tinha uns 12 anos, eu já me identificava diferente dos meninos. Isso conflitou a ponto de, no final dos 13 anos, eu parar de jogar futebol por um ano. Eu não sabia o que fazer. Eu não me sentia à vontade nos vestiários com os meninos, eu não me sentia à vontade com o ambiente do futebol masculino e resolvi parar porque eu não estava à vontade – lembra.

Nicole deu mais uma chance ao futebol, mas viveu um impasse durante anos: precisou se manter em uma caixinha que não dava espaço para ela se permitir ser quem começava a entender que era. Com a lesão ligamentar, ela teve tempo para se compreender melhor.

– Eu não me sentia bem naquele ambiente, mas queria jogar futebol. Esses dez meses me fizeram entender. Eu já tinha mais informação e entendia quem eu era. Eu só não podia me expor, me assumir, porque se eu fizesse isso ia acabar o futebol. Quando eu machuquei, eu consegui visualizar.

Com o auxílio do Coletivo de Torcidas Canarinhos LGBTQIA+, da advogada Josiane Costa e de Thiago Carvalho, da FMF, ela enviou à CBF, em abril de 2023, um documento com exames médicos feitos desde 2019, depoimentos e até mesmo matérias de outras jogadoras trans que atuam em outros países para solicitar a atualização do registro.

O Coletivo entrou em contato direto com o presidente da CBF Ednaldo Rodrigues e Gamil Föppel, diretor jurídico da instituição, para dar auxílio na alteração do registro de Nicole no BID.

– Demos algumas sugestões desde o movimento que eles poderiam fazer para trazer um regulamento que organizasse a inscrição de pessoas trans ou até mesmo fazer a alteração direta a partir dos dados e dos documentos que ela já havia enviado. Eles não fizeram o regulamento, mas fizeram a alteração direta. E eu acho que fica até mais simples, porque se a pessoa chegar para fazer a alteração e a inclusão, eles fazem sem qualquer tipo de burocracia. Isso estabeleceu um caminho para a CBF trabalhar – conta Onã Rodá, fundador do Canarinhos LGBTQIA+.

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