4 de maio de 2024

Algumas pessoas com ascendência africana resistem melhor à contaminação do vírus e têm uma carga viral menor mesmo convivendo com o HIV

Por Bruno Bucis
Publicado pelo portal Metrópoles, em 11/08/2023

http://exame.abril.com.br/tecnologia/noticias/cientistas-britanicos-podem-ter-encontrado-a-cura-para-o-hiv

Existe uma pequena proporção de pessoas no mundo que parece carregar no DNA uma resistência ao vírus da imunodeficiência humana (HIV), causador da aids. A ciência busca entender as chaves genéticas que dão imunidade a estes indivíduos, mas as investigações geralmente se concentravam em pessoas brancas (apesar de a maior parte dos infectados no mundo estar na África) e não chegaram a resultados conclusivos.

Um trabalho publicado na revista Nature em 2 de agosto mudou o foco e descobriu que alguns indivíduos com ascendência africana podem ter maior resistência ao HIV a partir de uma variação genética com propriedades que não tinham sido descritas até o momento. Os pesquisadores que chefiaram o estudo, ligados a universidades de cinco países de língua inglesa, estimam que entre 4% e 13% das pessoas com origem africana carregam a mutação.

A pesquisa foi feita a partir do material genético de 3,9 mil indivíduos que vivem com o tipo mais comum de HIV, o 1. Ela apontou que a variação em um gene chamado CHD1L parece garantir uma maior resistência ao vírus, impedindo sua replicação e mantendo a carga viral em níveis baixos.

O gene CHD1L é conhecido por sua capacidade de reparar células reproduzidas com DNA danificado. Os cientistas não sabem exatamente como o gene atua para controlar a replicação do HIV, mas descobriram que o gene está desligado nos macrófagos, um dos maiores reservatórios do vírus no corpo.

Esta mutação é diferente de uma outra já conhecida, a CCR5: variação genética impede que o vírus entre nas células de defesa do corpo e se multiplique. O processo acontece como uma chave e fechadura — com a mudança no gene, o HIV não consegue se encaixar no linfócito e invadí-lo. A CCR5 é a responsável por todos os casos de pessoas que se curaram do HIV conhecidos até agora, e está ligada ao transplante de medula óssea nesses pacientes — aproximadamente 1% da população mundial possui a mutação.

Os portadores da CHD1L tinham HIV, mas os exames mostravam cargas virais baixas no organismo. Por isso, o sexo com uso de preservativo e outros cuidados de prevenção ao vírus continuam sendo recomendados.

Mutação pode ajudar no futuro do combate ao HIV

A identificação da mutação no gene CHD1L é um dos principais avanços das últimas décadas para entender a resistência de alguns indivíduos à infecção e por que ela afeta menos severamente alguns pacientes.

“Ainda temos um longo caminho a percorrer na luta contra o HIV – não desenvolvemos uma vacina para prevenir a infecção e não encontramos uma cura até o momento. Entender exatamente como essa variação genética controla a replicação do HIV pode nos ajudar”, afirma o professor inglês Manjinder Sandhu, um dos autores do estudo, ao site da Universidade de Cambridge.

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