24 de abril de 2024
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Jair Bolsonaro saiu em defesa de Resende no Twitter, afirmando que subordinado vai priorizar conhecimento, e não doutrina (Foto: MPF GO / Reprodução)

Por Joaquim de Carvalho
Publicado pelo portal Diário do Centro do Mundo, em 7 de janeiro de 2019

Murilo Resende Ferreira, o recém-nomeado diretor Inep, que organiza o Enem, já se tornou uma unanimidade negativa. Do MBL às associações de professores universitários, ele é considerado inepto, incapaz para exercer a função. “É um maluco completo, fora da realidade”, disse um dos fundadores da entidade de extrema direita, ao revelar que Murilo foi expulso do MBL de Goiás.

Entre os professores e intelectuais, a crítica é melhor fundamentada. Um deles foi à fonte — o blog de Murilo — e detalhou o grau de despreparo do jovem economista. “O sujeito que vai cuidar, entre outras coisas, do Enem e Saeb, tem um blog com postagens alucinadas como ‘Descartes: pai da ideologia de gênero’”, conta Hélio Alves, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.

Guilherme de Almeida, que se define ironicamente como “falso intelectual”, escrutinou outro texto — sobre aborto — e encontrou pérolas como considerar o personagem de um livro de Dostoievski escrito em 1866 (Crime e Castigo) como um típico estudante esquerdista influenciado pelos delírios de Nietzsche. “Para quem leu romance, sabe que o personagem Raskolnikov (o personagem de Dostoievski) é quase o oposto do que socialismo quer”, disse Guilherme. Além disso, Nietzsche não era de esquerda nem tampouco era conhecido na época em que o livro de Dostoievski veio à luz. A primeira obra de Nietzsche é de 1872.

Os textos de Murilo revelam que ele é um analfabeto funcional. Não sabe sequer interpretar um texto. Quando sua inépcia se tornou pública, no fim de semana, Murilo tratou de sair das redes sociais. Seu blog também não pode mais ser acessado.

Ao mesmo tempo, com o novo coordenador do Enem nocauteado pelas críticas, coube ao clã Bolsonaro defendê-lo. Talvez seja a primeira vez na história que um presidente vem a público para defender o terceiro escalão do governo. “Murilo Resende, o novo coordenador do Enem, é doutor em economia pela FGV e seus estudos deixam claro a  priorização do ensino ignorando a atual promoção da ‘lacração’, ou seja, enfoque na medição da formação acadêmica e não somente o quanto ele foi doutrinado em salas de aula”, escreveu Jair Bolsonaro.

Já o filho, Eduardo, avisou: “Atenção, professores: seu aluno q inicia agora o 1º ano do ensino médio não precisa saber sobre feminismo, linguagens outras q não a língua portuguesa ou história conforme a esquerda, pois o vestibular dele será em 2021 ainda sob a égide de pessoas da estirpe de Murilo Resende.”

Para o cientista político Luís Felipe Miguel, o caso de Murilo é mais grave do que simples falta de preparo ou ignorância. E o apoio que lhe dá a família Bolsonaro mostra a importância do projeto de desconstrução das escolas em geral — e da universidade em particular. “Busca eliminar do ambiente escolar qualquer traço de pensamento crítico. (…) Não se trata de combater apenas o marxismo ou o feminismo, mas qualquer traço de reflexão crítica sobre a realidade”, disse. Com isso, se fecha a conta. “Liberal na economia e conservador nos costumes”, como apregoa a propaganda bolsonarista, significa “naturalizar uma instituição produzida historicamente (o mercado) e os comportamentos suscitados por ela”.

Com pessoas como Murilo em postos-chave do Ministério da Educação, se procura criar um ambiente que “impeça questionamentos e a produção de uma nova e mais igualitária ordem social”. É, em essência, o objetivo do movimento “Escola sem partido”. Quem achou que Bolsonaro nos levaria de volta a 1964 agora já sabe que o bilhete prevê uma viagem de volta ao passado bem mais longa. O destino final fica atrás do Renascimento. Mas ainda dá tempo de parar esse trem.

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