28 de março de 2024
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A transexual Chopelly Glaudystton, 33 anos, conta que se sentia mulher desde pequena (Wilson Dias/Agência Brasil)

Por Marieta Cazarré
Publicado pelo portal EBC – Agência Brasil, em 13 de novembro de 2015

Luiza Copietters nasceu em um corpo masculino, mas tinha fascinação e desejo pelo universo feminino. Aos 5 anos, ao ver uma estrela cadente, fez seu pedido infantil: queria virar uma menina. Hoje, aos 36 anos, Luiza se identifica como mulher transexual. Desempregada, ela luta para mudar seu nome de registro e ser respeitada como mulher.

Até 2012, quando começou a fazer a sua transformação, Luiza era o professor Luizão e dava aulas em um colégio particular em São Paulo. No final de 2014, ela resolveu assumir a transexualidade e contar aos professores e alunos da escola.

“Quando o assunto chegou à direção, a coisa ficou complicada. Reduziram muito as minhas turmas e meu salário – de maneira ilegal. Comecei a sentir paranoia e depressão. Entrei em pânico e tive que sair de licença médica. Após a licença, fui demitida”, conta.

O caminho percorrido por Luiza, desde a infância até a transformação (quando a pessoa inicia a mudança de visual, o tratamento hormonal e escolhe o nome social), é semelhante ao percorrido por muitos homens e mulheres trans. Um caminho longo, de aceitação e luta.

Para a psicóloga e coordenadora do grupo de apoio a transexuais do Hospital Universitário de Brasília (HUB), Sandra Romero Studart, os transexuais se veem diferentes desde a infância, com 4 ou 5 anos de idade.

“Vão percebendo que estão fora daquele modelo de gênero que é cobrado deles. O menino tem que brincar com a bola, a menina, com a boneca. Hoje já se transita isso de uma forma diferente. O masculino e o feminino transitam em todas as áreas sem tanta pressão. Não que seja fácil para essas pessoas, mas acho que, se compararmos com antigamente, as pressões para assumir a sua identidade, sua orientação, elas vêm bem menos sofridas”, afirma Sandra.

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A transexual Chopelly Glaudystton, 33 anos,
conta que se sentia mulher desde pequena

(Wilson Dias/Agência Brasil)

Chopelly Glaudystton, 33 anos, transexual e ativista, conta que se sentia mulher desde pequena. “Mas na minha época não tinha muita compreensão, a imagem que a gente tinha era da Roberta Close. Hoje você tem muita coisa falando sobre transexualidade o que ajuda as meninas novas que estão se descobrindo. Mas na minha época foi bastante difícil.”

Sandra acompanha um grupo de aproximadamente 47 transexuais no HUB e explica que não é necessário passar pela cirurgia de transgenitalização (mudança de sexo) para ser atendido ou considerado transexual.

“Há dez anos, a gente achava que o paciente trans estava no grupo porque ele faria a cirurgia. Hoje em dia não se fala mais isso. Para ser trans, não é preciso fazer a cirurgia. Para ter seu nome modificado, não é preciso passar pela cirurgia. Essas mudanças são muito ricas nesse processo”, afirma.

Para a psicóloga e doutora em Psicologia Social pela Universidade de Brasília (UnB) Jaqueline Gomes de Jesus, a transexualidade é uma questão de identidade. “Não é uma doença mental, não é uma perversão sexual, nem é uma doença debilitante ou contagiosa. Não tem nada a ver com orientação sexual, como geralmente se pensa, não é uma escolha nem é um capricho”, diz Jaqueline no documento Orientações sobre Identidade de Gênero: Conceitos e Termos.

Com relação à orientação sexual, Jaqueline explica que uma pessoa trans pode ser bissexual, heterossexual ou homossexual. Portanto, mulheres transexuais que se atraem por homens são heterossexuais. Já mulheres trans que se atraem por outras mulheres são homossexuais.

É o caso de Luiza. “Em 2012, eu estava num restaurante com um amigo meu e vi um casal de mulheres lésbicas, namoradas. Fiquei com um mal estar enorme porque pensei: nunca vou poder viver isso”, conta. Foi aí que ela descobriu que, apesar de se identificar com o gênero feminino, ela continuava gostando de mulheres. Luiza se identifica como uma transexual lésbica.

Ela conta que quer passar pelo processo de redesignação (outro nome para a mudança de sexo) e reclama da demora nas listas do serviço público para fazer a cirurgia. De acordo com o Ministério da Saúde, a cirurgia é feita pelo Sistema Único de Saúde (SUS) desde agosto de 2008. Até abril de 2015, foram realizados 268 procedimentos.

Autoestima

A coordenadora do grupo de apoio a transexuais do Hospital Universitário de Brasília (HUB) diz que observa um grande resgate da autoestima entre as pacientes que fizeram a operação. “Elas ficam mais empoderadas para brigar pelas coisas que elas querem. Eu vejo muitas conquistas”, afirma.

Fabiana Melo Oliveira conta que fez a cirurgia há 13 anos, em Barcelona, na Espanha. “Entrei na sala de cirurgia às seis da tarde e saí meia-noite. Naquela época demorava muito, hoje não é tanto. A dor que eu senti era uma dor suportável, a felicidade era maior. Para mim, era uma necessidade. Eu não me via com a minha genitália”, explica Fabiana.

Em novembro de 2013, o Ministério da Saúde, por meio da Portaria n° 2.803, ampliou o processo transexualizador no sistema público de saúde, aumentando o número de atendimentos e incluindo procedimentos para redesignação sexual de mulher para homem. Neste caso, o SUS realiza cirurgias para a retirada de mamas, útero e ovários.

A redesignação de homem para mulher inclui a amputação do pênis e a construção da neovagina (nome dado ao novo órgão), implante de próteses de silicone nas mamas e redução do pomo de adão com objetivo de feminilização da voz.

Em ambos os casos são feitos o acompanhamento clínico e a terapia hormonal por dois anos antes da cirurgia e até um ano no pós-operatório. A idade mínima para o início da terapia com hormônios é 18 anos e para a realização dos procedimentos cirúrgicos é 21 anos.

Apenas cinco hospitais universitários são habilitados pelo Ministério da Saúde para a realização do processo transexualizador: o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Goiás (UFG), em Goiânia (GO); o Hospital de Clínicas de Porto Alegre, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS); o Hospital Universitário Pedro Ernesto, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj); a Fundação Faculdade de Medicina, da Universidade de São Paulo (USP); e o Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), no Recife.

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