9 de outubro de 2024
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(Thinkstock)

Publicado pelo portal BBC, em 27 de outubro de 2016

Uma pesquisa inédita concluiu que 82% dos torcedores britânicos de vários esportes não veriam problema se um jogador de seu time do coração anunciasse ser gay. Uma minoria, 8%, afirmou que pararia de acompanhar a equipe se isso ocorresse. O levantamento revelou também que 71% dos fãs de futebol disseram que os clubes deveriam trabalhar mais para educar seus apoiadores sobre homofobia. A metade dos torcedores ouvidos disse já ter escutado ofensas homofóbicas durante partidas. Mais de 4 mil pessoas responderam à pesquisa, realizada por meio de um questionário online pelo instituto ComRes, sob a encomenda da BBC Radio 5 – do total de participantes, 2.896 eram torcedores.

Robbie Rogers revelou ser gay ao anunciar sua aposentadoria (AFP/Getty Images)
Robbie Rogers revelou ser gay ao anunciar sua aposentadoria (AFP/Getty Images)

Tabu

No Brasil, nenhum jogador de uma equipe de renome de futebol já revelou ser gay – e o tabu em torno do assunto é forte. Justin Fashanu se tornou o primeiro jogador a se declarar gay na Inglaterra, em 1990 – ele acabou tirando a própria vida em 1998, quando tinha 38 anos de idade. Desde então, nenhum jogador de futebol em atividade se declarou gay no país. Thomas Hitzlsperger, ex-jogador da seleção alemã, se tornou o primeiro jogador com experiência na Premier League, a primeira divisão do futebol inglês, a revelar sua orientação sexual publicamente. Mas isso ocorreu em janeiro de 2014, após ele ter encerrado sua participação na liga. Robbie Rogers, ex-Leeds, também revelou ser gay ao anunciar a sua aposentadoria. Ele voltou a jogar pelo LA Galaxy, nos Estados Unidos. Com Casey Stoney, da seleção feminina da Inglaterra, foi diferente: ela declarou ser homossexual em 2014, ainda em atividade.

Thomas Hitzlsperger, ex-jogador da seleção Alemã, declarou publicamente ser homossexual. (Daniel Smith/Getty Images)
Thomas Hitzlsperger, ex-jogador da seleção Alemã, declarou publicamente ser homossexual. (Daniel Smith/Getty Images)

Números

Ampla, a pesquisa ouviu torcedores de 11 esportes diferentes, além do futebol. Segundo os resultados:
– Mais torcedores (12%) ficariam descontentes se um jogador do time rival fosse para o seu time do que se um jogador de sua equipe revelasse ser gay (8%).
– 7% parariam de assistir a jogos dos seus times se estes contratassem um jogador gay.
– 57% acreditam que jogadores gays deveriam revelar suas orientações sexuais para ajudar outros a fazerem o mesmo.
– 18% dos torcedores acreditam que jogadores gays deveriam esconder suas orientações sexuais.
– 15% dos torcedores acreditam que um jogadores gay no time deixaria os outros colegas da equipe desconfortáveis.
– 50% disseram já ter escutado ofensas homofóbicas em partidas, 51% disseram ter ouvido ofensas machistas e 59%, racistas.

No Parlamento

A pesquisa foi publicada em um momento em que o futebol inglês passa por uma profunda reflexão sobre a questão. Na semana passada, o presidente da FA, a federação de futebol da Inglaterra, Greg Clarke, afirmou, ao responder questões feitas por uma comissão parlamentar, que teria cautela ao recomendar que um jogador revelasse ser homossexual. Segundo o dirigente, o atleta poderia ser alvo de “duras ofensas” por parte dos torcedores.

Ao ser novamente questionado em um programa de rádio da BBC, Clarke manteve sua opinião de que “ofensas maliciosas vindas de uma pequena minoria” deveriam ser resolvidas antes que jogadores pudessem “assumir o risco” de se declararem homossexuais. O dirigente afirmou, porém, que apoiaria e respeitaria os atletas que tomassem essa decisão. “Eu não poderia prometer, no momento, que eles teriam a proteção necessária. Temos que redobrar nossos esforços para propiciar um ambiente seguro”, disse ele, que espera atingir esse objetivo no espaço de “um ou dois anos”.

O ex-jogador Chris Sutton criticou as afirmações e disse que Clarke escolheu uma saída fácil para a questão, em vez de enfrentá-la. Segundo ele, o dirigente se deixa levar pela reação de “8% de homens da caverna”. Sutton, que jogou em times como Chelsea, Norwich, Blackburn, e Celtic, disse: “revelar a homossexualidade não deveria ser problema no ambiente de trabalho. O futebol é como qualquer trabalho. Os jogadores com quem trabalhei não dariam a mínima (se algum colega revelasse ser homossexual)”. “Esses 8% não deveriam frequentar campos de futebol. Ao não encarar o problema, os 8% saem ganhando nisso tudo. Greg Clarke deveria estar criticando esses indivíduos”, afirmou o ex-jogador.

De acordo com Simone Pound, que chefia o departamento de igualdade e diversidade da associação de jogadores de futebol, a cultura do futebol inglês passa por mudança, e a questão está deixando de ser um tabu. “Trabalho há mais de 15 anos com futebol e certamente notei uma mudança na cultura do esporte e há muito mais aceitação e compreensão sobre pessoas LGBT.”

Punição

Em maio deste ano, a federação inglesa puniu com multa o jogador Chris Stokes, do Coventry City após ele tuitar a palavra “faggots” – um xingamento homofóbico em inglês – ao comentar um jogo entre Chelsea e Tottenham. O atleta pediu desculpas e afirmou que sua postagem “foi totalmente errada”. Stokes disse apoiar que jogadores gays revelem suas orientações. “Eles encontrariam apoio total no vestiário – e, quiçá, o apoio total das arquibancadas também.”

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