Sobre recente polêmica da estreia de Tiffany Abreu na Superliga, como primeira mulher trans a atuar no vôlei feminino, o ativista Neto Lucon publicou em seu perfil no Facebook, no último dia 5, um diálogo altamente esclarecedor a respeito e demonstra como tal polêmico é desnecessária e demonstra, sim, pura transfobia. Confira:
TRANSFÓBICO: Mas é óbvio que uma esportista trans é muito mais forte que uma esportista cis. É a testosterona.
NLUCON: Você sabia que o Comitê Esportivo Internacional exige que antes de competir elas passem por 12 meses (um ano) pela hormonioterapia (com estrogênios ou bloqueadores) e que, assim, reduzam o nível de testosterona até menos que o de mulheres cis e tornem mais aptas para competir ao lado delas?
TRANSFÓBICO: Mas não é só o hormônio, são os músculos, a estrutura óssea.
NLUCON: Um estudo norte-americano chamado Race Times For Transgender Athletes, do Providence Protland Medical Center, garante que o tratamento hormonal provoca um decréscimo significativo de massa muscular e densidade óssea.
TRANSFÓBICO: Mas é óbvio que ainda assim elas são mais rápidas, fortes e resistentes.
NLUCON: Neste mesmo estudo, foi comprovado que elas perdem drasticamente velocidade, força e resistência. Ele informa que uma mulher trans costuma correr 12% mais devagar que antes.
TRANSFÓBICO: Mas elas são mais altas, pronto!
NLUCON: O fato de mulheres trans ser possivelmente mais altas que mulheres cis nem sempre significa vantagem em alguns esportes, como a ginástica olímpica ou o fisiculturismo. A pesquisadora da pesquisa até diz que pode haver desvantagens em competidoras trans, porque “Carros menores com motores pequenos podem ultrapassar carros maiores com motores pequenos”.
TRANSFÓBICO: Mas há diferenças naturais entre os corpos, isso você não pode negar!
NLUCON: Não podemos, há diferenças entre todos os corpos. O nadador cis Michael Phelps, por exemplo, tem um tronco gigante, pernas pequenas e flexibilidade acima da média dos demais nadadores cis. A sua especificidade natural o fez ter 28 medalhas olímpicas. Os atletas quenianos cisgêneros, que sempre são favoritos em provas de longa de distância, têm pernas compridas, finas nas extremidades e equipadas com um calcanhar largo e elástico. Combinação que permite correr mais gastando pouca energia, o que não acontece entre outros corredores cis. As competidoras trans podem ter um corpo que as beneficie em algum momento, mas há vários tipos de corpos trans, assim como há vários tipos de corpos cis. Veja o corpo da lutadora trans Fallon Fox e sua rival na foto e responda quem tem o corpo maior e com mais músculos?
TRANSFÓBICO: Mas eu não gosto e não quero dar o direito às atletas trans.
NLUCON: Aí você chegou onde eu queria chegar. Existe mais o preconceito em cima dessas pessoas trans – que além de se prepararam para competir, ainda enfrentam a transfobia da torcida, dos adversários, de treinadores – que uma real preocupação com vantagens no esporte. Aliás, imagina como fica uma atleta trans, que após enfrentar a luta para finalmente ser quem é e conseguir oficializar a pessoa que é, ter que ficar explicando sua existência, dar entrevistas, enfrentar transfobia da torcida, das adversárias e ainda se dedicar ao esporte, treinar, competir e vencer? Isso não é vantagem nenhuma…