24 de abril de 2024
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Wilson Gomes
Publicado no Facebook, em 15 de outubro de 2018

https://www.facebook.com/wilson.gomes.9883/Perguntaram-me hoje qual é o meu maior medo em um futuro governo Bolsonaro. Se é para escolher apenas uma coisa, não tenho dúvida: é o fato de que o mundo bolsonarista será muito mais injusto e mais perigoso para os homossexuais. Parece-me plausível imaginar que aparecerão milicianos empoderados em toda parte para agredir, ofender e humilhar LGBTs.

O modo como a artilharia bolsonarista no WhatsApp gastou energia e recursos para destruir a reputação e as chances eleitorais de Jean Wyllys, uma das campanhas mais brutais a que já assisti, demonstra a centralidade do ódio aos homossexuais na construção da sua identidade. Difícil mesmo dizer se há entre eles mais ódio a Lula e ao PT ou ao meu amigo Jean. Está todo mundo falando, com razão, do antipetismo, mas para o estrato mais radical do bolsonarismo, Jean virou a quintessência das pautas morais que eles abominam. Para o bolsonarismo hard core, Jean é uma metonímia da mentalidade liberal e progressista contra a qual eles reagem com fúria existencial, como esta fosse um luta que vale a vida.

Mas, por que isso? Uma razão, já está apresentada acima: o bolsonarismo hard core é um reacionarismo extremado, uma luta de vida ou morte contra os valores liberais. Sentiam-se uma ilha oprimida cercada de Jeanwyllies por todos os lados, mas, na sua fantasia doentia, agora têm uma chance de retaliação que não podem deixar de escapar. O fim político de Jean, com efeito, era o prêmio que gostariam de ter obtido nesta eleição e que lhes escapou por pouco.

A segunda razão é que o núcleo radical do bolsonarismo é o principal desaguadouro de uma militância anti-homossexuais que vem de longe. Desde 2010, pelo menos. Sentiram-se derrotados várias vezes, nas decisões do Supremo, na reeleição de Jean em 2014 com recorde de votação, na presença de Jean na esfera pública à medida em que foi se tornando a principal voz pública na luta por direitos e reconhecimento para os LGBTs, no engajamento de Jean em questões de gênero, laicismo, religiões afro. O ascensão de Jean Wyllys na esfera pública e nas instituições da política foi experimentada por essa gente sombria como ofensa e como afronta.

Como agora sentem que deram a volta por cima e ganharam o jogo, tenho mais medo da arraia miúda do bolsonarismo e do seu senso de empoderamento do que do próprio Bolsonaro – que estará atado, pelo menos inicialmente, a algumas amarras institucionais. Temo que o Brasil de 2019 venha a ser um lugar muito mais perigoso para minorias, a começar pelos homossexuais. Rezo para estar errado. De qualquer modo, pelo menos sabemos de que lado estaremos. Eu, pelo menos, não tenho dúvida.

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