Por Leo Barsan (Twitter @leobarsan) | Fotos: Vagner Oliveira
Publicado pelo portal Bocão News, em 13 de Setembro de 2015
Quem viu a secretária executiva Inês Silva liderar um trio elétrico na 14ª edição da Parada do Orgulho Gay, neste domingo (13), sequer imagina que a mãe de dois filhos tentou tirar a própria vida por duas vezes quando suas crias revelaram a homossexualidade. “Na primeira vez, tomei remédio para me matar. Na segunda, entrei em depressão profunda e tentei deixar de viver”, disse ela, ao Bocão News. Essa rejeição é considerada “homofobia cultural” pelo Grupo Gay da Bahia (GGB).
O drama vivido por Inês – e compartilhado com outras mães que também não aceitavam a sexualidade de seus filhos – foi superado. “Me resolvi! Tudo que eu queria era que eles voltassem para os armários. Meus filhos tiveram educação heterossexual. Não foi fácil e aceitei aos poucos, mas ainda acreditava que eles iriam se ‘curar’”, esperou.
Hoje, Inês é uma das coordenadoras do movimento “Mães pela Diversidade”, que sai em defesa dos filhos e da felicidade deles. “Quando meu filho André Luiz lançou um livro e disse, no lançamento, que precisava de mim, aí, escancarei. Fiquei mais leve e vi que não devia nada a ninguém. Eu achava normal quando era na casa dos outros”, contou a secretária executiva.
A força que ela precisou para “superar” a não-aceitação veio de onde menos esperava. “Meu marido, que era machista, disse para mim que eles eram nossos filhos e que precisávamos mantê-los perto”. Neste domingo, o esposo dela, Alfredo Góes, estava empolgado ajudando a ornamentar o trio elétrico. O casal e o filho, o advogado André Luiz, 23 anos, marcharam juntos “para combater o preconceito”. A filha, Andréa Luiza, 27, está no exterior e não pôde participar.
Inês é militante há dois anos. Ela explica que outras mães procuram o grupo em busca de apoio. “Hoje tem 25 mães de vários países em minha casa. Nossos filhos são nossos alicerces. A homossexualidade não é doença e a condição sexual não pode interferir na vida das pessoas. Não é demérito algum. Quero que eles sejam felizes. Posso dizer que hoje tenho vários filhos”, orgulhou-se.
O exemplo de Inês é seguido por Márcia Cardim. Ela e o filho, o farmacêutico Thyago Cardim, também participaram da Parada Gay. “Ele veio do Rio de Janeiro para a gente marchar juntos. Soube quando meu filho tinha ainda 15 anos. Não tinha referência na família e fui buscar conhecer esse universo. Comecei a ter outra visão. O que importa é a dignidade, o caráter e o amor que meu filho tem pelas pessoas. O resto é o resto”, arrematou.
Thyago relembrou os momentos de apreensão que viveu antes de conversar com a família a respeito da sexualidade. “Fiquei com medo da reação, mas minha mãe percebeu que não iria mudar. Sou sortudo e minha família é maravilhosa”, resumiu ele.
Mãe de quatro filhos, a doceira Eliane Barreto também apoiou seus dois garotos que são homossexuais. “Foi tranquilo, apesar de, em um primeiro momento, não parecer algo normal. Meu filho mais velho tem 27 anos e assumiu. Hoje vim com o mais novo, que tem 19. Eles precisam do meu apoio e o amor é algo que transcende qualquer barreira. Amo os meus filhos e com amor tudo se resolve”, declarou-se.
O caçula, Pedro Barreto, 19, viu seu processo de aceitação na família ocorrer de forma mais tranquila. “Como meu irmão já tinha revelado, para mim foi mais simples”, ressaltou. Os dois juntaram-se ao grupo “Mães pela Diversidade”. Para Pedro, o movimento fortalece a relação entre pais e filhos com dificuldades em lidar com a condição sexual “diferente” do convencional. Aos filhos e aos pais que preferem não encarar o tema de frente, o jovem avisou: “a mãe sempre sabe”.
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