19 de abril de 2024
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Nascido no Recife em outubro de 2012, Miguel tem duas mães: Fabiane e Elizabeth (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Elizabeth e Fabiane tentaram adoção e inseminação antes da fertilização. Miguel mora com as duas mães em Olinda e começou a estudar neste ano.

Bruno Marinho
Publicado pelo portal G1, em 25 de abril de 2016

Nascido no Recife em outubro de 2012, Miguel tem duas mães: Fabiane e Elizabeth (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Miguel de Freitas Alcântara não deixa nada a dever às outras crianças da sua idade. Com 3 anos e 6 meses, adora assistir a desenhos na televisão, não é muito fã de feijão e mal sente o tempo passar na companhia dos animais de estimação — quatro, no caso dele: o cachorro Pequeno, as cadelas Galega e Mina, além da jabuti Jade. Gasta tanta energia explorando a casa construída no bairro de Ouro Preto, em Olinda, para recebê-lo que, geralmente às 19h, já está pronto para dormir na cama situada bem ao lado daquela ocupada por suas duas mães.

Além do amor incondicional pelo filho, que nasceu no dia 5 de outubro de 2012, a professora Fabiane de Freitas e autônoma Elizabeth de Alcântara também compartilham a mesma idade: 41 anos — dos quais estão juntas há 25. Depois de tentarem adotar um bebê que faleceu no terceiro dia após nascer em 2009, não desistiram do sonho de ser mãe e optaram pela inseminação artificial no ano seguinte. O resultado do exame de gravidez, porém, foi negativo. Um ano se passou até voltarem à mesma clínica, decididas agora a fazer a fertilização in vitro. No dia 20 de fevereiro de 2012, veio a esperada confirmação: o primeiro filho chegaria naquele mesmo ano.

Além das duas mães, Miguel divide a casa em Olinda com três cachorros e uma jabuti (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

Elizabeth se lembra do dia do nascimento de Miguel como se fosse hoje. “Foi o inverso do que eu imaginei, fiquei tão calma, acho que em êxtase. Fabi pediu para eu ficar segurando a mão dela e eu a fiquei observando cuidadosamente. Só queria que Miguel nascesse bem e que ela não sofresse. Na minha imaginação, eu iria me emocionar muito, mas a felicidade era tamanha por ter dado tudo certo que eu só fazia sorrir. Fiquei encantada com aquela vida que já tinha mudado a nossa vida, complementando-a e realizando um sonho que era só nosso”, tenta traduzir em palavras.

Ao fim do primeiro dia de vida de Miguel, boa parte dos parentes do casal já tinha passado no hospital onde ele nasceu para conhecer o mais novo integrante da família. “Foi emocionante ver a aceitação familiar de Miguel como neto, sobrinho, primo. Apesar de ele não ter meu material genético, a acolhida foi natural por parte de todos. Hoje meu pai até brinca com ele: ‘você é filho de uma égua mesmo, quer dizer, de duas éguas!’. Esse apoio da família é fundamental. Nada mais garante a tranquilidade de saber que, não importa onde estejamos, nosso filho está em segurança, sendo cuidado e principalmente amado”, conta Elizabeth, ou melhor, Mamãe Betina.

Na escola, Miguel coloriu duas mulheres para mostrar
com quem mora (Foto: Bruno Marinho/G1)

“Quando Miguel chamava ‘mamãe’, nós duas olhávamos. Aí ele dizia: ‘É a outra mamãe’. Neste ano, o colocamos na escola e um exercício do livro pedia para pintar as pessoas da família que moravam na sua casa. Ele coloriu duas figuras de mulheres, que mostravam a mãe e a tia. Perguntei em casa e ele: ‘Essa é a Mamãe Fabi e essa é a Mamãe Betina’”, relembra Fabiane, que fica com a árdua missão de fazê-lo deixar o prato do almoço vazio. “Não é um momento muito fácil. São, no mínimo, 40 minutos. Mereço um reconhecimento na minha lápide pelo esforço de cada dia”, brinca.

Amor de mãe em dose dupla

Louco por chocolate, Miguel só troca o doce por uma coisa: abraço coletivo com as duas mães, que oficializaram a união estável em 2011 e se casaram no civil dois anos depois. “Não existe coisa melhor do que ser chamada de mãe e acordar com um abraço e um beijo do filho. Você pode estar no maior mau-humor que se acaba no mesmo momento, pode acontecer qualquer coisa no seu dia, mas nada vai tirar você do sério”, revela Fabiane. “Miguel acorda feliz, sem abuso nenhum, já dizendo: ‘Bom dia, mamães! Olha o sol, vamos descer?’”, complementa a mãe coruja.

A maternidade mostrou às duas que o amor que sentem uma pela outra desde que se conheceram aos 16 anos poderia se transformar em um sentimento ainda maior e mais forte ao ser direcionado para Miguel. “Quando se é mãe, você humaniza mais o mundo, fica mais sensível às pessoas. E se pergunta: ‘Como é possível amar tanto alguém?’. Realmente por ele você dá sua vida. Qualquer pessoa é substituível, mas um filho é algo eternizado. É um amor incondicional, que o leva a fazer tudo em prol do bem-estar dele”, descreve Elizabeth.

O casal compartilha, ainda, a mesma expectativa do que Miguel venha a ser no futuro — e não é sobre a profissão dele a que as duas mães se referem. “Eu desejo que o nosso filho compartilhe todo o amor e o respeito que a gente deu. Se ele for uma pessoa de bem, que é benquista onde chegar, já é o suficiente”, ressalta Elizabeth. “Que ele seja livre para escolher o que quiser e seja feliz com as escolhas que fizer, sempre tendo respeito pelos outros por saber que sempre vai existir uma história de vida ali”, torce a Mamãe Fabi.

Miguel de Freitas Alcântara (Foto: Aldo Carneiro/Pernambuco Press)

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