10 de dezembro de 2024
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Alunos participaram da aula inaugural na Faculdade de Educação (Faced), Canela

Priscila Machado
Publicado pelo jornal A Tarde, em 3 de agosto de 2015

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Alunos participaram da aula inaugural na Faculdade de Educação (Faced), Canela

Theo Gonçalves, 19, é estudante e sonha cursar engenharia da computação. Mahylle Santana, 20, quer fazer administração; e Íris Simões, 27, pensa cursar história. O que eles têm em comum, além do desejo de ingressar no ensino superior? A transexualidade.

Theo, Mahylle e Íris foram alguns dos 22 alunos matriculados no pré-vestibular gratuito ‘Transviando o Enem’ – voltado para transexuais e travestis -, que participaram nesta segunda-feira, 3, da aula inaugural do curso, na Faculdade de Educação (Faced) da Universidade Federal da Bahia, no Canela.

Esta segunda foi um dia de descontração para a turma. Alunos e alunas assistiram à entrevista da transexual Maria Clara Araújo, que cursa pedagogia na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE). Em seguida, cada um se apresentou e falou sobre o que espera do curso.

O diretor da Faced, Cleverson Suzart, deu as boas-vindas: “É uma iniciativa  bacana! Vocês já estão dentro do ambiente da Ufba. Agora é mandar ver na prova para ingressar de fato e darem continuidade a este processo de inclusão”.

Empoderamento

Para a transexual Íris, o aprendizado também servirá de ponte para a conclusão do ensino médio. “Vou me esforçar para obter uma boa nota no Enem e receber o certificado de conclusão do segundo grau”, disse.

Ela está desempregada e acredita que o preconceito é o principal empecilho para a  conquista da vaga. “Já fiz diversas seleções, mas é difícil. Esse curso é um espaço de troca de empoderamento. Com ele, vamos mostrar que cuidar de cabelo e fazer programa não são as únicas ocupações das trans”, opinou.

Theo, que também é transexual e faz um curso técnico de tecnologia da informação, no Instituto Federal da Bahia (Ifba), disse ter escolhido o Transviando o Enem por uma questão de respeito e bem-estar.

“Pré-vestibular há em vários lugares, mas em nenhum deles encontrarei respeito como encontro aqui. Não é só o conteúdo que me atrai, mas o afeto, o sentimento de pertencimento. Com eles, estudarei com tranquilidade”, comentou.

As aulas serão realizadas de segunda a quinta-feira, das 14h às 17h30, até o dia 24 de outubro. Quem tiver interesse ainda pode se matricular pela fanpage do Transviando o Enem, no Facebook.

Ainda não há prazo de encerramento das inscrições. “Nosso interesse é que a comunidade permaneça com as portas abertas”, disse Tito Carvalhal, integrante da comissão organizadora.

O curso é realizado por uma comunidade de 30 integrantes do Diretório Central dos Estudantes (DCE-Ufba), do Coletivo Kiu, do núcleo baiano do Instituto Brasileiro de Transmasculinidade (Ibrat-BA) e conta com o apoio da Defensoria Pública do Estado, do site de educação Descomplica e da Ufba, que cedeu o espaço.

Transcidadania vai ser um dos temas abordados

Apesar do desconhecimento, a Lei Municipal nº 7.859 de 2010 garante aos travestis e transexuais o direito de serem atendidos por seus respectivos nomes sociais em órgãos da administração pública municipal e da iniciativa privada.

Este será um dos temas discutidos nas aulas de noção de transcidadania do Transviando o Enem.

Tito Carvalhal, um dos coordenadores do pré-vestibular, expilca que, além de todas as disciplinas exigidas pelo Enem, o curso abordará   direitos e cidadania da comunidade LGBT. “Será também um espaço de formação política”, conta.

Inicialmente, o curso será voltado para transexuais e travestis. “Estamos dando oportunidade a essas pessoas porque são as que têm menos atenção dentro da comunidade LGBT”, pontuou.

Ele falou sobre a exclusão vivida por essas pessoas. “Muitos evitam até ir à unidade de saúde, por causa do desrespeito. Quando tentamos nos aproximar de garotas de programa para chamá-las para o curso, elas nos perguntaram: para quê?”, conta.

Isso porque, ele completa: “Muitas delas já se formaram e, por não conseguirem  trabalho na área, voltam para as ruas”.

Inscrição

Também integrante da comissão coordenadora, Felipe Doess, diz que se surpreendeu com o número de inscritos. “No total, 35 pessoas se inscreveram, mas, infelizmente, só 22 puderam participar, por questões como horário e deslocamento”, afirmou.

Dados da Organização Transgender Europe apontam que, em 2014 – ano em que foi permitido o uso do nome social no Enem –, apenas 95 pessoas transexuais se inscreveram no exame, número inferior ao de pessoas trans mortas no mesmo período no país: 113.

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