10 de dezembro de 2024
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Jack Andraka descobriu maneira de detectar câncer de pâncreas com uma gota de sangue. E isso é só o começo

 , do Lado Bi

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jackandraka1Aula de biologia. O professor explicando sistema imunológico, anticorpos, corrente sanguínea… Vê um aluno lendo algo escondido debaixo da carteira, se irrita, confisca a leitura e segue dando aula. Uma cena comum. Assim como tantas vezes a maçã caiu da árvore até que um dia caiu na frente de Newton e disparou a formulação das leis da Física em sua mente. O professor não sabia, mas naquele momento seu aluno Jack Andraka tinha acabado de ter a inspiração para um exame que pode vir a salvar muitas vidas.

Andraka mora em Crownsville, Maryland, Estados Unidos. Na época desse ocorrido, quando Andraka tinha 14 anos, um grande amigo da família tinha morrido recentemente de câncer de pâncreas. Jack, que gosta de ciência desde cedo, ficou revoltado com a situação atual do tratamento de câncer de pâncreas. Esse órgão fica escondido dentro da cavidade abdominal, tornando as maneiras comuns de detecção de tumores (toque, ultrassom) praticamente inúteis. O exame de sangue disponível, além de ser caríssimo, tinha uma precisão de apenas 30%. Resultado: quando alguém finalmente tinha a confirmação de que estava sofrendo desse câncer, já se encontrava em estágio terminal, e a chance de sobrevivência do paciente não passava de 2%.

Jack se propôs a descobrir uma maneira de diagnosticar o câncer de pâncreas que fosse barata, rápida, precisa e pouco invasiva. Pesquisando no Google, na Wikipédia e em artigos científicos, estudou todas as proteínas relacionadas à presença do câncer de pâncreas, e encontrou uma que aparece em grandes quantidades logo nos primeiros estágios da doença: a misotelina. No entanto os cientistas não haviam ainda desenvolvido uma maneira de detectá-la facilmente no meio de milhões de outras que circulam no corpo humano.

E foi ouvindo seu professor de biologia falar sobre anticorpos enquanto lia escondido um artigo sobre nanotubos de carbono que Jack teve sua grande inspiração. Nanotubos são estruturas moleculares com diâmetro de  1/50.000  de um fio de cabelo. Tubos absurdamente ínfimos cujas “paredes” têm apenas um átomo de carbono de espessura. Estruturalmente, são mais fortes que aço e conduzem eletricidade melhor que fios de cobre.

Ao ouvir a descrição de como os anticorpos são proteínas que se ligam a antígenos específicos “num esquema chave-fechadura” como todos nós já cansamos de ouvir, Andraka associou os anticorpos aos nanotubos e teve a ideia para seu exame. Se ele conseguisse entrelaçar uma rede de nanotubos com anticorpos de misotelina, ao se jogar sangue com misotelina nessa rede os anticorpos se ligariam à proteína e inchariam. Ao incharem, esses anticorpos afastariam os nanotubos, afetando suas capacidades elétricas. Quanto mais mesotelina, mais os anticorpos afastariam os nanotubos entre si, e menor seria a corrente elétrica que eles seriam capazes de conduzir.

O próximo passo foi tentar encontrar um laboratório em que ele pudesse testar suas ideias. Com a disposição e inocência de alguém no começo da adolescência, Jack descreveu suas ideias para 200 universidades e laboratórios. E recebeu 199 nãos. Apenas Anirban Maitra, pesquisador da Universidade Johns Hopkins, se propôs a conhecer o garoto e liberou um espaço em seu laboratório para a pesquisa. Achava que só o veria no máximo durante algumas semanas das férias. Jack insistiu em sua pesquisa durante sete meses, aparecendo lá à noite depois das aulas e durante os finais de semana. Num domingo de dezembro do ano passado, Andraka conseguiu que seu exame detectasse a mesotelina em sangue de camundongos que carregavam tumores pancreáticos humanos.

Andraka mostra uma tira com a qual se realiza seu exame: mais rápido, mais barato e muito mais preciso.
Andraka mostra uma tira com a qual se realiza seu exame: mais rápido, mais barato e muito mais preciso.

O método acabou de ser patenteado e ainda tem que passar por vários testes até poder ser comercializado – estima-se que leve até dez anos para que entre no mercado. Mas sua aplicação é simples: espalha-se uma gota de sangue em uma tira de papel-filtro embebida em uma mistura de anticorpos e nanotubos. Um ohmômetro simples mede a resistência elétrica da tira, e de acordo com essa leitura é feito o diagnóstico. O teste criado por Jack é 168 vezes mais rápido e 26 mil vezes menos caro que o teste padrão. Em sua palestra para o TEDTalks, Andraka se empolga: o mesmo princípio pode ser usado com outros anticorpos, possibilitando o diagnóstico antecipado de outros tipos de câncer ou vírus como o HIV. Graças a sua descoberta, o jovem ganhou um prêmio de 75 mil dólares na Feira Internacional de Ciência e Engenharia da Intel.

E não é só nas proezas científicas que Jack Andraka é precoce. Ele é abertamente gay desde os 13 anos, e não se furta de tocar no assunto em entrevistas. Quando um repórter do site New Civil Rights Movement perguntou sobre sua sexualidade, ele respondeu “Que incrível! Eu sou abertamente gay e uma das minhas maiores esperanças é que eu ajude a inspirar outros jovens LGBT a se envolverem em ciência, tecnologia, engenharia e matemática. Eu não tive muitos modelos de comportamento gay nas ciências além de Alan Turing”. Ele conta com todo o apoio da família. Sua mãe se lembra de quando perguntou ao filho de 13 anos se ele era gay:

“Depois que Jack contou para seus amigos de escola que era gay, uma das mães me ligou para contar que havia rumores de que ele era gay. Durante um jantar nós estávamos conversando e eu comentei que eu tinha recebido um telefonema de uma senhora dizendo que Jack era gay. Ele respondeu que não era um rumor, e que ele estava contando para os amigos que ele sentia que era. Então eu e meu marido conversamos a respeito disso, e explicamos que acreditamos que as pessoas nascem gays, que ele é assim mesmo e é melhor ser aberto sobre quem você é do que tentar se forçar num molde que não lhe corresponde. Nós também dissemos para ele que as pessoas são mais que sua sexualidade, e que o que é importante é ser uma pessoa honesta e solidária que usa seu potencial ao máximo. Por exemplo, eu não me apresento como Jane a mulher hétero, mas como Jane a anestesista e mãe que faz caiaque. Mais tarde as pessoas descobrem que eu sou casada com um homem.”

Mas a mensagem que ele quer frisar mais que tudo é que, hoje em dia, na era da internet, “qualquer coisa é possível. Teorias podem ser compartilhadas, e você não precisa ser um professor com diversos títulos para que suas ideias sejam valorizadas. É um espaço neutro, onde a sua aparência, idade e sexo não importam. Apenas suas ideias contam. É só uma questão de ver a internet de forma totalmente nova, para perceber que ela serve para muito mais do que apenas postar suas fotos fazendo biquinho. Você pode mudar o mundo.”

Fonte: http://www.ladobi.com/2013/10/cientista-gay-de-16-anos-desenvolve-novo-exame-para-cancer/

Veja também: Jack Andraka: Um teste promissor para detecção do câncer de pâncreas… criado por um adolescente

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