Gésner Braga
Eventualmente, costumo ir a um bar de Salvador onde um ator transformista incorpora uma personagem regada a comicidade e muito escracho. Invariavelmente, sempre a vejo (ela, a personagem) eleger alguém da plateia para uma bateria de perguntas íntimas, embaraçosas e de duplo sentido. Até aí, nada de novo, pois a vergonha alheia foi, é e sempre será uma das matérias primas do humor.
O assunto predileto nessas ocasiões é sexo e uma pergunta recorrente aos homens é: “você é ativo ou passivo?”. Até hoje, não vi ninguém responder de maneira firme que é passivo. A resposta mais frequente é “flexível”, quando não “ativo”. Se, diante da insistência e artimanhas da entrevistadora, o interrogado se vê compelido a se assumir passivo, isso se dá com flagrante constrangimento.
Então eu me pergunto: qual a razão de tanta vergonha? Sobre isso, é curioso observar que muitos gays ostentam feminilidade no jeito de ser de um modo orgulhoso em boa medida. Trata-se de uma atitude inegavelmente afirmativa que eu aplaudo, pois a feminilidade no homem é um dos possíveis instrumentos de ruptura da heteronormatividade compulsória a que estamos sujeitos desde que nascemos. Essa mesma atitude também é responsável por um grau de exposição que torna o gay mais vulnerável à violência. É nesse momento que enxergo um enorme contrassenso: se existe coragem para se expor tão inteiro, mandando o preconceito às favas e dando a cara a tapa, por que a passividade é uma condição tão humilhante?
Invariavelmente, diante daquele palco, alimento o desejo de ver uma resposta improvável frustrar a piada. Imagino sempre a oportunidade de se dizer em alto e bom tom: sou passivo! Eu iria além: faria um discurso em favor da causa e diria que essa vergonha em se assumir passivo é fruto de uma sociedade machista e misógina que atribui a quem penetra os valores pretensamente soberanos da masculinidade e que considera menor e desprezível tudo que se refira ao universo feminino, inclusive numa forçosa e equivocada associação da passividade ao papel de mulher da relação.
É preciso entender de uma vez por todas quão fluida é a sexualidade humana, mesmo em situações em que os papéis estão aparentemente bem definidos entre os amantes. Ao ser passivo na cama, eu sou tão biologicamente homem quanto o meu parceiro. Se partirmos para o plano das subjetividades, ambos somos tudo ao mesmo tempo. Ainda que exclusivamente passivo no sexo, eu domino e sou dominado, sou doce e impetuoso, sou Yin e Yang. E nessa salada de múltiplos papéis, é desonesto e ilógico demarcar o que é feminino e masculino e totalmente descabido propor essa demarcação como forma de estabelecer valores dicotômicos, como o certo e o errado, o bom e o mau, o melhor e o pior.
Da próxima vez que eu for ao bar, proporei a criação do Dia do Orgulho Passivo. Só de pirraça…
Você sabia que sexólogos definem quem faz o sexo oral, o ativo? Também o paradigma de apenas o ativo ser homem é, “quebrado” quando mostrarmos “competitivos” às mulheres, quando o namorado ou o “eventual” percebe o quão sexualizado está nosso anus, logo sempre apetitoso à língua! Meu primeiro namorado, por sermos colegas de faculdade, transamos muito no quarto dele, na casa dos pais, a tal ponto, de muitas vezes, conversando com eles, depois íamos “dormir”, ele me lambia guloso o ânus e sem pressa! As vezes, nós três “homens” juntos, na conversa dos 4! Ele percebia eu mais umedecido pelo orgasmo e, brincava, homem no meio de dois homens, e ai me penetrava com aquela ereção (ereto por peludo com voz grossa)!
gostei da ideia do dia do orgulho so nao sei se corajosos para defenderem a ideia