Selar teus rubros lábios
Com o calor dos meus
E o relicário está feito
Em mim guardas a fonte
Dos desejos inomináveis
E perde a chave
Que nos abre ao abismo
De ser o humano
Na consumação do outro
Eu me ofereço
Em ritual profano
Virgem destemida
A aplacar a fúria de meu deus
Está posta a mariposa
E a sina derradeira
Encontro de luz e chama
Morrer em ti
Sempre é o início da vida
Um combate de sangue
O gozo na ferida exposta
A carne que tremula
Ao frio metal da lâmina
Entronizando no peito
O louvor expiatório do sacrifício
Velar o teu calor
Como uma vestal incauta
O fogo que crepita
Incandescência lúbrica
Atiça feroz
A mácula iconoclasta
Perde-se a centelha da razão
Num banquete de muitos sentidos
Onde corpos se adoram
Corpos se devoram
Para alcançarem o Mistério
Na ceia de meu deus
Tales Pereira
(Em Escreviver)