29 de março de 2024
http://blogueirasfeministas.com/2015/08/visibilizar-e-resistir-e-nos-resistimos-porque-ainda-precisamos-falar-sobre-a-visibilidade-lesbica/

Texto de Mariana Rodrigues para as Blogueiras Feministas
Publicado em 28 de agosto de 2015

“E eu não posso escolher entre as frentes em que eu devo batalhar essas forças da discriminação onde quer que elas apareçam para me destruir. E quando elas aparecem para me destruir, não durará muito para que depois eles aparecerem pra destruir você”. Audre Lorde

Gosto sempre de refletir sobre essa frase da Audre Lorde, primeiro porque ela me fala diretamente sobre o feminismo no qual eu me reconheço, essa frase me diz que eu tenho que sair da minha zona de conforto da militância e reconhecer as hierarquias as quais estamos sujeitadas e que enquanto uma de nós estiver sendo oprimida, todas nós estamos. Mas, ultimamente, um trecho mais especifico me faz estremecer: “por onde quer que elas apareçam para me destruir…”.

Em tempos nefastos de avanço de fundamentalismos e retrocessos em direitos, visibilizar a nossa existência lésbica é resistir, é impedir que nos destruam!

Em 29 de agosto de 1996, durante o 1º Seminário Nacional de Lésbicas, criou-se um marco fundamental para o registro da luta de mulheres que têm seus direitos violados por sua orientação sexual no Brasil, o dia 29/08 passou a ser o Dia da Visibilidade Lésbica. Penso eu que passados quase vinte anos, ainda é necessário visibilizar as demandas, existências e resistências lésbicas.

A invisibilidade hoje, para mim, é das “forças das descriminação” apontadas por Lorde mais cruel e potente.

É cruel porque está longe de ser considerado violência, é algo quase como que abstrato e silencioso, por isso é tão potente. É cruel, porque quando invisibilizamos algo afirmamos que aquela demanda, aquela pessoa, aquela experiência  não é importante e não é digna de atenção. A invisibilidade nega toda e qualquer possibilidade de existência.

É através da invisibilidade que nos são negados direitos, aquilo que não existe não tem direitos.

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As políticas públicas brasileiras de saúde sexual, prevenção e tratamento de DST/AIDS são reconhecidas e elogiadas no mundo todo, mas o que dizer de insumos de prevenção para as lésbicas? Preservativos específicos, dedeiras, toalhinhas para sexo oral, onde estão sendo distribuídos esses insumos? O que podemos dizer das pesquisas sobre contágio, transmissão de doenças sexualmente transmissíveis entre mulheres, além de que ainda são insipientes? É importante ressaltar também os efeitos na saúde mental das lésbicas que diariamente enfrentam a misoginia, o sexismo e a lesbofobia nas mais diversas esferas, seja no trabalho, seja no ambiente doméstico, seja nos seus espaços de sociabilidade.

Lésbica não pega DST? Lésbica não tem depressão? Não, lésbicas ainda são invisíveis…

Nos índices sobre violência contra população LGBT, nós somos a “letrinha” com menos dados e isso com certeza não quer dizer que não sofremos violência, inclusive letais. Isso quer dizer que os estupros corretivos organizados (inclusive por familiares) não estão sendo reconhecido como violência, isso que dizer que não reconhecemos aquela lésbica adolescente que é privada de liberdade dentro de casa pelos pais por sua orientação sexual, isso quer dizer que invisibilizamos essas violências que são muitas vezes violência doméstica. Isso sem falar no assédio nas ruas, o medo de assumir-se no trabalho e ser demitida, a insegurança de “perder” amigos e familiares queridos, e etc…

Nós também somos invisíveis nos espaços de participação e representação política, de quantas lésbicas em cargos de representação político partidárias podemos falar? Quantas lésbicas em cargos de direção e de decisão em empresas ou organismos importantes podemos citar? Temos alguns (poucos) exemplos internacionais, aqui no Brasil o que temos é a presidenta se “defendendo de acusações” sobre a sua orientação sexual, dizendo que “não é lésbica, é avó”… Alias sobre as “acusações”, suposições e inferências e toda a misoginia sobre a sexualidade da Dilma valeriam muitos outros posts, fica para um outro momento.

Tenho escutado em vários espaços que não é mais necessário “nos rotular”, não é preciso nos “identificar enquanto lésbicas” que as experiências são múltiplas e fluidas… Acho lindo, acho bacana, acho tipo um mundo de sonho onde os nossos “rótulos” e identificações não nos tornam menores, inferiores, dignos de menos direitos e mais suscetíveis a violências.

Enquanto esse mundo de sonho não chega, eu sigo assumindo essa minha identidade, esse meu rótulo de SAPATÃO que também referencia aquelas, que antes de mim, lutaram e resistiram para que hoje eu seja visível.

Pensando sobre isso e inspiradas por aquelas que se recusam a ser invisíveis, aqui no Tocantins, nós do coletivo Lésbitoca, organizamos uma campanha para mostrar que somos muitas e somos diversas: ?#?MeRecusoASerInvisível?.

Somos negras, somos índias, temos muitas vivencias e experiências, estamos em muitos espaços. Somos médicas, estudantes, militantes, cozinheiras, trabalhadoras domésticas, professoras, bailarinas. A campanha é composta de 30 peças que tem o objetivo de dizer: Nós existimos!

Visibilizar é Resistir, e nós RESISTIMOS!

 

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