29 de março de 2024

(Reprodução, TV Globo)

Jean Wyllys

(Reprodução, TV Globo)
(Reprodução, TV Globo)

O enorme sucesso da telenovela Babilônia provocou a ira de dois líderes fundamentalistas cristãos do Congresso Nacional – deputado federal João Campos (PSDB-GO) e senador Magno Malta (PR-ES) – que emitiram deploráveis notas de repúdio à novela e conclamaram seus rebanhos a boicotá-la. Campos e Malta emitiram suas notas em nome da “família brasileira”.

Ora, quem é que fala em nome da “família brasileira”! O deputado João Campos, cuja campanha eleitoral foi financiada pela indústria armamentista e está acusado de embolsar o salário de funcionários do gabinete. E Magno Malta, indiciado na operação “Sanguessuga” da Polícia Federal que investigou um esquema de corrupção batizado de “máfia das ambulâncias”! Ambos parceiros políticos de Eduardo Cunha, o Francis Underwood do subdesenvolvimento, portavoz das corporações e que recebeu quase 7 milhões de empresas para sua campanha e está sendo investigado na operação “Lava jato”!

Quando eles tentam ressignificar “a moralidade” como se fosse uma questão relativa à sexualidade humana é porque não tem outra moralidade da qual possam falar, não é? São cínicos e oportunistas (afinal, polarizar com o produto campeão de audiência rende algum holofote a essas mariposas escuras e assustadoras em sua ignorância e/ou má fé).

Mas – e digo isto principalmente à equipe de artistas e técnicos que faz Babilônia e em especial às grandes damas da (tele)dramaturgia Fernanda Montenegro e Nathalia Timberg – o ódio que os fundamentalistas religiosos têm de novelas é, também, uma prova da eficácia destas na educação informal dos brasileiros. Num período de trevas políticas, com o Congresso tomado majoritariamente por conservadores, reacionários e fanáticos, a telenovela pode ser (e, no caso de Babilônia, está sendo) mais um espaço de resistência cultural e política. Por isso eles ficam tão nervosos (como ficaram quando “Salve Jorge” resgatava o catolicismo popular e suas relações com as religiões de matriz africana).

Eles sabem que uma novela como Babilônia dialoga com a sociedade brasileira num nível em que eles tentam chegar e pode fazer um excelente serviço à luta contra o preconceito. Após o beijo da estreia que Fernanda protagonizou junto a Nathalia Timberg, mais casais lésbicos tiveram a coragem de registrar seus casamentos no cartório (http://glo.bo/1FMs7Id). Após esse beijo, o STF deu um tapa na cara do anacrônico projeto de lei batizado de “Estatuto da Família” ao reconhecer a adoção de crianças por casais homossexuais (http://bit.ly/1MSyOc0).

Os parlamentares fundamentalistas cristãos acham que estão ganhando porque conseguiram se articular nas negociações da velha política, no toma-lá-dá-cá de um Congresso cada dia mais desprestigiado. Mas eles estão perdendo diante do fato de que a sociedade está em transformação apesar de seus (deles) esforços para a conservar preconceituosa e intolerante em relação à diversidade sexual e religiosa (mas não em relação à corrupção, à demagogia, à exploração comercial da fé e ao estímulo ao ódio em que eles, esses parlamentares, estão envolvidos).

O Brasil do futuro tem muito mais a ver com os valores democráticos e libertários que o casal Stela e Teresa defende em Babilônia do que com qualquer campanha de boicote dessas figuras imprestáveis da velha política.

Salve, Fernanda e Nathalia! Salve, ?#?Babilônia?!

Fonte: www.facebook.com/jean.wyllys/posts/852800451434630

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