29 de março de 2024
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Estudo do Williams Institute identificou uma correlação positiva entre mais direitos para pessoas LGBTQ e PIB maior.

Philip Ellis, escritor freelance e jornalista
Publicado pelo portal HuffPost Brasil, em 30 de junho de 2017

No dia 2 de junho, para marcar o começo do mês do Orgulho LGBTQ, Ivanka Trump tuitou: “Tenho orgulho de apoiar meus amigos LGBTQ e os americanos LGBTQ que fizeram enormes contribuições para nossa sociedade e economia”.

É exatamente o tipo de afirmação que esperamos de Ivanka; sem graça e inofensiva na superfície, mas preocupante no momento em que você realmente pensa sobre a declaração. O que ela está dizendo aqui? Que um americano LGBTQ só tem valor se está contribuindo para a economia? Que o desproporcional número de americanos LGBTQ que estão desabrigados ou vivendo na pobreza, não justificam o apoio?

Posso imaginar o tipo de mensagem que Ivanka estava tentando transmitir. Sendo filha de um dos mais destacados capitalistas no planeta, ela provavelmente pensou que elogiar as contribuições econômicas da comunidade LGBTQ é semelhante a agitar uma bandeira do arco-íris e cantar “I Am What I Am”. (Não é).

O irônico é que, embora as pessoas LGBTQ possam, de fato, contribuir para a economia dos Estados Unidos, Ivanka, com sua posição nebulosa na Casa Branca, é cúmplice em realmente impedir que as pessoas queer avancem e impulsionem ainda mais o crescimento econômico do país.

Não estou falando aqui sobre o mítico “pink pound” (expressão britânica que significa o dinheiro gasto pela comunidade LGBTQ), mas senso comum básico. Em um estudo com 39 países desenvolvidos e em desenvolvimento, o Williams Institute identificou uma correlação positiva entre mais direitos para pessoas LGBTQ e PIB maior. E, embora existam todos os tipos de fatores em jogo aqui, há uma lógica para isso.

A posição de uma nação sobre os direitos das pessoas LGBTQ tem um impacto direto no potencial econômico desses indivíduos. Ela determina onde vivem, onde trabalham, seu acesso à educação e assistência médica e se são ou não protegidos pela lei contra perseguições. Isso significa que a posição de uma nação sobre as pessoas LGBTQ também tem um impacto direto em seu desempenho acadêmico, perspectivas de emprego, potencial de salário e até mesmo expectativa de vida — todos fatores essenciais para a capacidade de um cidadão funcionar dentro de uma sociedade e contribuir para a economia.

A discriminação na escola ou no local de trabalho tem um custo muito real; resulta em fracasso nos exames e horas perdidas de trabalho, ambos os quais são um desperdício de capital humano. O que significa que proteger os direitos das pessoas LGBTQ não é apenas uma questão de direitos humanos, mas também econômica.

Quando um cidadão trans é impedido de usar um banheiro na escola ou no trabalho, estão essencialmente excluindo-o de participar da vida cívica. Todas as vezes que alguém é demitido de seu trabalho em razão de sua sexualidade, como ainda é legalmente permitido nos Estados Unidos, isso equivale à uma perda de estímulo na economia do país.

Se há um país que não pode mais perder nenhum estímulo, economicamente falando, é o Reino Unido. Neste momento, nosso governo conservador parece estar rumo a uma coalizão com o DUP, conhecido por suas políticas retrógradas em relação aos direitos das pessoas LGBTQ e das mulheres. Esta aliança, dizem, fortalecerá as chances de a Grã-Bretanha conseguir um bom acordo no Brexit, sustentando nossa economia. O que os “tories” estão aparentemente deixando de considerar é que pular na cama com um partido que não esconde sua negação da mudança climática, sua homofobia, sua trasfobia ou visões pré-guerra sobre o aborto, poderia levar a uma morte econômica e social resultante de todos esses fatores.

E tudo isso sem sequer entrar no argumento de que as empresas que discriminam são mais propensas a enfrentar boicotes por parte dos antenados consumidores da geração do milênio. Segundo uma pesquisa da Cone Communications and Ebiquity, 90% das pessoas estão dispostas a boicotar uma marca se não sentem que a empresa adota valores que são importantes para elas.

Por outro lado, 88% dos consumidores serão mais leais a uma marca que ativamente apoia questões sociais progressistas, e estatísticas da Economist Intelligence Unit sugere que as empresas que promovem a inclusão de indivíduos LGBTQ podem ser até 30% mais produtivas.

Há certo ceticismo atualmente entre a comunidade LGBTQ em relação às corporações que decidem participar do Orgulho LGBTQ. Bancos e supermercados que adornam seus logos com as cores do arco-íris realmente apoiam clientes e funcionários LGBTQ ou estão simplesmente, cinicamente, buscando uma vitória fácil no campo das relações públicas? Vai saber.

O que realmente sabemos é que as empresas que contratam e servem pessoas queer podem ganhar mais dinheiro do que aquelas que não o fazem. E essa abordagem aberta, inclusiva, igualitária de comércio beneficiará mais a comunidade LGBTQ do que um tuíte de Ivanka Trump escrito por um comitê.

*Este texto foi originalmente publicado no HuffPost US e traduzido do inglês.

1 thought on “Homofobia e transfobia são realmente ruins para a economia

  1. A sexualidade “bem resolvida” traz ganhos expressivos na vida pessoal e profissional das pessoas! Na adolescência quantos estudantes tem seu rendimento escolar prejudicado pela relação hetera? Já na minha adolescência “ficar” com aluno, mesmo sendo da sala ao lado (outra série) deixou a gente otimista, mesmo sem transarmos, propriamente dito! Em 2018, então o perfil de dois homens que se completaram: eu formado em Administração e ele Engenharia; eu 52 anos e ele 35 anos; eu solteiro e ele casado vivendo a Bissexualidade!

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